Hildegarde de Bingen (Scivias:I,4) – A Ação da Vontade

Em uma série de imagens baseadas em seu conceito de ‘verde’, essa digressão no meio de Scivias 1, 4 apresenta algumas das ideias de Hildegard sobre antropologia. Talvez escrita antes da carta a São Bernardo, ela foi comparada aos escritos de Hugo de São Victor e Honório de Autun e revela quão amplamente lida ela deve ter sido, especialmente porque ela não baseou a passagem em uma fonte identificável em particular. Baseando-se em amplo conhecimento, Hildegard descreve sua compreensão de ideias como a relação da alma e do corpo, a compreensão humana e a ação da vontade.

17. Como a alma revela suas capacidades de acordo com as capacidades do corpo

A alma revela suas capacidades de acordo com as capacidades do corpo, de modo que na infância ela traz simplicidade, na juventude força, e na plenitude da idade, quando todas as veias do ser humano estão cheias, ela traz sua maior força em sabedoria. Da mesma forma, uma árvore em seu primeiro crescimento produz brotos tenros, passa a dar frutos e finalmente amadurece esse fruto até a plenitude da utilidade. Mas depois, na velhice, quando os ossos e as veias de um ser humano se inclinam para a fraqueza, então a alma revela forças mais suaves, como se estivesse cansada do conhecimento humano. Da mesma forma, no início do inverno, a seiva da árvore se retira das folhas e galhos à medida que a árvore começa a se inclinar para a velhice.

18. O ser humano contém três caminhos

Um ser humano contém três caminhos: a saber, alma, corpo e sentidos. Nesses três caminhos, a vida humana segue seu curso. A alma enche o corpo de vida e produz os sentidos; por sua vez, o corpo atrai a alma e abre os sentidos; por sua vez, os sentidos tocam o corpo e atraem a alma para eles. A alma dá vida ao corpo como o fogo que inunda as trevas de luz; tem dois grandes poderes como dois braços: a compreensão e a vontade. Não que a alma tenha esses membros para se movimentar; ao contrário, ela se revela nesses dois poderes como o sol se manifestando no esplendor de sua luz. Portanto, ser humano, você não é um feixe de veias; preste atenção ao conhecimento das escrituras.

19. Compreensão humana

A compreensão humana está conectada à alma como os braços ao corpo. Pois assim como o braço está unido à mão e a mão aos dedos, também não há dúvida de que a compreensão procede da alma e ativa os outros poderes da alma, pelos quais ela conhece e reconhece as ações humanas. Pois acima de todos os outros poderes da alma é a compreensão que distingue o que é bom do que é mau nas ações humanas. A compreensão é, portanto, um mestre por meio do qual todas as coisas são conhecidas, pois assim ele discerne todas as coisas, assim como o trigo é separado dos talos e das cascas; ela examina quais coisas são úteis e quais são inúteis, quais são amáveis ​​e quais são odiosas, quais são da vida e quais são da morte.

Assim como a comida sem sal é sem graça, também os outros poderes da alma são fracos e ignorantes sem ela. A compreensão está na alma como os ombros no corpo, agindo como a força motriz por trás dos outros poderes da alma, dando-lhes força como os ombros dão força ao corpo. É flexível, como a dobra do braço, discernindo tanto o divino quanto o humano em Deus. Assim, a compreensão humana funciona com a verdadeira fé, pois, como a articulação dos dedos da mão, pode distinguir entre muitas ações diversas. Portanto, opera de maneira diferente das outras forças da alma. Por que é isso?

20. A vontade

A vontade aquece uma ação, a mente a recebe e o pensamento a concretiza. A compreensão, porém, discerne uma ação pelo processo de conhecer o bem e o mal, assim como os anjos também têm uma compreensão que ama o bem e odeia o mal. E assim como o corpo tem coração, também a alma tem compreensão, que exerce seu poder em uma parte da alma, assim como a vontade em outra.

Como isso acontece? A vontade, de fato, tem grande poder na alma. Como isso acontece? A alma fica, por assim dizer, no canto da casa, isto é, no firme apoio do coração, como um homem de pé no canto de uma casa para inspecionar toda a casa e supervisionar seu funcionamento. Ele levanta o braço direito para dar um sinal e aponta coisas úteis para a casa enquanto se vira para o leste. A alma faz o mesmo nos caminhos de todo o corpo quando olha para o nascer do sol. A alma usa a vontade, como se fosse seu braço direito, como um suporte firme para as veias e os ossos e o movimento de todo o corpo, pois a vontade dirige toda ação, seja para o bem ou para o mal.

21. A parábola do fogo e do pão

A vontade é como um fogo cozendo cada ação em um forno. O pão é assado para alimentar as pessoas e fortalecê-las para que possam viver. A vontade é a força por trás de toda a ação. Moe a ação em um moinho, adiciona fermento e amassa-a com firmeza e assim prepara cuidadosamente a ação, como um pão que a vontade assa à perfeição no calor de seu zelo. Ao fazê-lo, fornece aos seres humanos um alimento melhor do que o pão para as atividades que realizam. Pois enquanto o alimento é introduzido no corpo humano e consumido, a ação da vontade perdura no ser humano até a separação da alma do corpo. E embora a ação varie muito na infância, na juventude, na maturidade e nos anos de declínio, a vontade dirige-a etapa por etapa e a leva à perfeição.