Hesíquio de Batos ou o Sinaíta — Capítulos sobre a Sobriedade e a Vigilância
41. Quanto mais abundante for a chuva, mais amolecerá a terra. Quanto mais assiduamente invocarmos o nome de Cristo, independente de todos os pensamentos, mais ele amaciará a terra de nosso coração, mais a penetrará de júbilo e de alegria.
42. É útil que as pessoas de pouca experiência saibam ainda isto: quando estamos abatidos, quando o corpo e a razão nos arrastam para a terra, temos inimigos invisíveis e imateriais, astutos e hábeis para nos prejudicar. Temos um único meio de vencê-los: a constante sobriedade de espírito e a invocação de Cristo, nosso Deus e Criador. Que os inexperientes encontrem, na oração de Jesus, um excitante para sentir e conhecer o bem. Quanto aos que adquiriram experiência, o melhor ensinamento e a melhor prática do bem consistem em praticá-lo e em repousar nele.
43. A criança sem malícia se deixa seduzir pelo charlatão e, em sua simplicidade, segue-o. Da mesma forma nossa alma, simples e boa — seu bom Mestre assim a criou — encontra prazer nas sugestões do demônio; ela se deixa seduzir e corre para o malvado, como se ele fosse bom, assim como a pomba cerre para o caçador de pássaros que arma arapucas para seus filhotes. Desse modo, nossa alma mistura seus próprios pensamentos à imaginação proposta pelo demônio. Seja o rosto de uma linda mulher ou alguma outra coisa absolutamente proibida pelos mandamentos de Cristo, a alma procura o meio de traduzir em ato o objeto que viu… Identifica-se então com seu pensamento e executa, no corpo, para a própria condenação, o objeto proibido que viu mentalmente.
44. Assim procede o Maligno; é com essas flechas que ele envenena todas as suas vítimas. Por isso, é mais prudente, enquanto o espírito ainda não possui uma longa experiência da guerra, não deixar os pensamentos entrarem no coração. Especialmente no começo, quando nossa alma ainda sente inclinação pelas sugestões dos demônios, encontra prazer nelas e segue-as com avidez. É indispensável, logo que se percebem os pensamentos, suprimi-los imediatamente, no mesmo instante em que nos atingem e em que os identificamos. Quando o espírito tiver adquirido uma grande experiência desse exercício admirável e souber tudo o que é necessário saber; quando estiver habituado a essa guerra, a ponto de discernir com exatidão entre os pensamentos; e quando for capaz, conforme a palavra do Profeta, de “apanhar as raposinhas”, então ele poderá dispensar-se a astúcia de deixá-los avançar, e em seguida iniciar, com a ajuda de Cristo, o combate de desmascará-los e empurrá-los para fora.
46. A sugestão é o começo. Depois, vem a ligação: nossos pensamentos misturam-se com os do espírito mau. Depois, a união: as duas espécies de pensamentos deliberam e acertam o plano do pecado a ser cometido. Finalmente, vem o ato visível, o pecado. Se o espírito se encontra em estado de atenção e de sobriedade e, através da discriminação e da invocação de Jesus Cristo, impede que a sugestão imaginativa progrida, ela não terá conseqüências. Porque o Maligno, sendo um espírito puro, para perder as almas, tem apenas a imaginação e os pensamentos… ‘
49. Velai incessantemente para que não haja em vosso coração nenhum pensamento, nem insensato ( proibido ), nem sensato ( permitido ): não tardareis a reconhecer os estrangeiros, isto é, os primogênitos dos egípcios.