Romano Guardini — Parábolas Evangélicas
SEGUNDO o costume oriental, Jesus empregou muitas vezes as parábolas. Estas dirigem-se às pessoas que pensam por imagens. Elas põem em movimento a força de imaginação e nela iluminam o sentido daquilo que está em questão. Mas a parábola não dá um sentido unívoco, como o ensino conceituai, mas um sentido complexo como a própria vida. A verdade viva exprime-se como uma polifonia, composta de diferentes vozes, de notas fundamentais e acessórias. Ela está também em movimento, e deixa salientar-se ora uma vez ora outra. Assim também a parábola tem qualquer coisa de móvel, que nem sempre se apreende. Se a hora não é propícia ela permanece muda e é mesmo capaz de entravar o espírito e de se colocar ao serviço do mistério obscuro de que fala Jesus: «Por isso é que eu lhes falo em parábolas; porque eles vendo não vêem, e ouvindo não ouvem nem entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías que diz: Vós ouvireis com os ouvidos e não entende reis; e vereis com os olhos, e não vereis. Porque o coração deste povo se fez pesado, e os seus ouvidos se fizeram tardos, e eles fecharam os seus olhos; para não suceder que vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e entendam no coração, e se convertam e eu os sare» (Mat., 13, 13-15). A maioria das parábolas ouvimo-las quase sempre envolvidas pela autoridade do Senhor; é possível, portanto, que não apreendamos bem a impressão que sobre nós realmente produzem. Reparamos então que qualquer coisa em nós resiste contra a parábola, mas que a autoridade vence esta resistência. A parábola em questão contém, manifestamente, um sentido complexo, exprimindo-se em contrastes, cujo desenvolvimento se deveria prosseguir, por assim dizer, dramaticamente. A tese e a antítese, a palavra e o seu contrário, deveriam destacar-se, defrontar-se, para que se fizesse a clarificarão e o sentido completo aparecesse… Neste capítulo faremos o esforço para compreender, sob todos os seus aspectos, duas parábolas várias vezes citadas, mas cujo sentido está longe de ser simples. Referimo-nos à parábola do filho pródigo e à do dono da vinha. Voltaremos ao mesmo tempo a abordar os pensamentos que nos ocuparam no capítulo primeiro da segunda parte, em que se tratava do Sermão da Montanha.