Roberto Grosseteste — LUZ
Contribuição e tradução de Antonio Carneiro
2.1. De luce seu de inchoatione formarum (Baur 1912: 51-53)
Formam primam corporalem, quam quidam corporeitatem vocant, lucem esse arbitor.
Non est ergo lux forma consequens ipsam corporeitatem, sed est ipsa corporeitas.
His ergo se habentibus manifestum est, quod lux multiplicatione sua infinita extendit materiam in dimensiones finitas minores et dimensiones finitas maiores secundum quaslibet proportiones se habentes ad invicem, numerales scilicet et non numerales.
A luz é arbitrada por uns como primeira forma do corpo, enquanto alguns denominam corporeidade.
A luz não é, portanto, uma forma consequente da própria corporeidade, mas sim é a própria corporeidade.
Então por isso, com propriedade, está claro, porque a luz com sua infinita multiplicação estende a matéria em dimensões finitas menores e dimensões finitas maiores, segundo, como achar bem, proporções que contiver mutuamente propriedades, evidentemente numerais e não numerais.
2.2. In Divinis nominibus (Tartarkiewic 1989, 2:242)
Lux est maxime pulchrificativa et pulchritudinis manifestativa.
A Luz é o máximo agente da beleza e da manifestação da beleza
2.3. Hexaemeron, 147 v. (Edgar de Bruyne 1959, 3: 132)
Haec (lux) per se pulchra est, quia eius natura simplex est sibique omnia simul. Quapropter maxime unita et ad per se aequalitatem concordissime proportionata, proportionum autem concordia pulchritudo est. Quapropter etian sine corporearum figurarum harmonica proportione ipsa lux pulchra est et visu iuncundissima.
Esta (a Luz) é bela por si-mesma1, porque sua natureza é simples2 se contém toda ao mesmo tempo. Por isso é que possui a unidade máxima e tem por si harmoniosíssima a proporção da igualdade, a harmonia das proporções também é beleza.3 Por isso ainda sem harmonia das proporções das figuras corpóreas, ela própria, a luz, é bela e deleitável para vista.
NOTAS
Quer dizer ainda que sua atividade não recaia sobre forma alguma. ↩
Nos textos dedicados a proporção pode-se apreciar o neo-platonismo de Robert Grosseteste. Nos textos dedicados à luz esta tendência parece se tornar ainda mais aguda. Assim, para Plotino, a simplicidade é o atributo estético por excelência (v. Enéadas II, 9,1 e III 8,9). Além disso, o texto utiliza os termos unidade e igualdade de maneira neo-platônica, quer dizer, outorgando-lhes um privilégio axiológico a respeito de seus correlativos, multiplicidade-diferença. Esta axiologia é de ordem pitagórica, e marcou profundamente a estética ocidental. ↩
Confluem neste texto as duas tendências metafísicas principais da estética medieval, a da proporção e a da luz. ↩