Gregorio Nissa Idade Perfeita

“A idade perfeita” do cristão é obra do Espírito e da alma tornada livre.
Meus irmãos, o santo batismo é poderoso: poderoso a ponto de conseguir, para os que o recebem com temor, a posse das realidades inteligíveis. O Espírito é rico e não avaro em seus dons. Ele se doa como um rio aos que recebem a graça; os santos Apóstolos, com ela cumulados, manifestaram às Igrejas do Cristo os frutos de sua plenitude.

O Espírito permanece naqueles que o recebem retamente. Na medida da fé de cada um, ele é seu hóspede, age com eles e neles constrói uma boa morada, na proporção do seu zelo pela obras da fé, guardando a Palavra do Senhor.

O Senhor o disse a respeito das minas ( Lc 19,13 ): a graça do Espírito Santo é dada a cada um de acordo com o seu esforço para o aumento daquilo que recebeu. Porque é preciso alimentar a alma regenerada pelo poder de Deus até a medida da idade do conhecimento no Espírito ( Ef 4,13 ); ela é, pois, generosamente irrigada pela seiva da virtude e pela abundância da graça.

O corpo do recém-nascido não permanece por longo tempo na delicadeza própria dessa idade, mas, fortificando-se pelos alimentos corporais, desenvolve-se segundo a lei da natureza, até a medida que lhe é fixada. Algo de semelhante acontece na alma recém-nascida: sua participação no Espírito anula a doença que nela havia entrado com a desobediência e renova a beleza primitiva da natureza. A alma assim renascida não permanece como criança, incapaz, imóvel, adormecida no estado em que se encontrava ao nascer, mas fortifica-se com os alimentos que lhe são convenientes e vai crescendo em estatura por meio de várias virtudes e exercícios, conforme as exigências de sua própria natureza. Pelo poder do Espírito e através de sua própria virtude, ela se torna invulnerável ao ladrão invisível que ataca com suas numerosas artimanhas.

É necessário, pois, progredir sempre em direção ao homem perfeito ( Ef 4,13-15 ), conforme as palavras do Apóstolo: “Até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao “homem perfeito”, à medida da plenitude de Cristo; a fim de que não sejamos mais crianças, joguetes das ondas, agitados por todo vento de doutrina, presos pelas artimanhas dos homens, pela astúcia com que nos induzem ao erro; mas vivendo segundo a verdade, cresçamos em tudo em direção d’Aquele que é a Cabeça, o Cristo”. E em outro lugar, diz o mesmo apóstolo:”Não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, a fim de discernir qual é a vontade de Deus, boa, favorável e perfeita” ( Rm 12,2 ).