Gregório do Sinai — Seleção de Jean Gouillard
Como salmodiar
… Quanto a ti, imita os que salmodiam de quando em quando, raramente… A salmodia freqüente é ocupação dos ativos, por causa de sua ignorância e do cansaço que ela impõe; mas não dos hesicastas, que se contentam de orar a Deus, só em seu coração (kardia), e de permanecer ao abrigo de qualquer pensamento… Quando vires a oração (euche) operar e se exercer em teu coração (kardia) sem cessar, não a interrompas, nem te ergas para salmodiar, a menos que, cem a permissão de Deus, ela te deixe primeiro. Porque seria abandonar Deus dentro, para lhe falar fora e cair das alturas sobre a terra. Sem contar que causas dissipação e perturbas a tranqüilidade de teu espírito. Pois a quie-tude ( hésychia ), como o nome indica, possui também a ação (praxis): ela a possui na paz e na tranqüilidade…
Aos que ignoram a oração (euche), convém salmodiar muito e ficar continuamente na multiplicidade, para somente quando sua ação (praxis) penosa os tiver conduzido à contemplação (theoria), quando tiverem encontrado a oração (euche) espiritual que opera neles. Uma é a ação (praxis) do hesicasta, outra a do cenobita. Quem for fiel à sua vocação, será salvo… Aquele que pratica a oração (euche) baseando-se no que ouve e no que lê, perde-se por falta de mestre.
… Se alguém quiser chicanear, objetando que os santos Padres ou certos modernos praticaram a estação noturna e a salmodia ininterrupta, responderemos, firmes no testemunho da Escritura, que nem tudo é perfeito em todos; que.o zelo e as forças têm limites, e que “o que aos grandes parece pequeno, não é necessariamente pequeno, nem o que aos pequenos parece grande é necessariamente perfeito” “. Para os perfeitos (teleios) tudo é fácil. Aí está por que nunca todos foram, nem nunca te dos serão ativos; nem todos seguem o mesmo caminho ou não o seguem até o fim. Muitos passaram da vida ativa à contemplação (theoria), cessaram toda a atividade; celebraram o sabá espiritual, exultaram no Senhor, saciados com o alimento divino, incapazes de salmodiar e de meditar qualquer coisa, por efeito da graça (kharis). Conheceram o rapto e atingiram parcialmente, em confirmação, o último desejável. Outros morreram e conseguiram a salvação na vida ativa; receberam a recompensa na outra vida. Outros, cuja salvação se manifestou por uma suave emanação post mortem, somente na morte tiveram a certeza da graça (kharis) do batismo, que possuíam como todos os batizados; porém, a escravidão e a ignorância de seu espírito impedira-os de participar dela misticamente, quando ainda em vida. Outros adquiriram renome pela oração (euche) e pela salmodia, ricos de uma graça (kharis) sempre em atividade e livre de todo obstáculo. Outros, ainda, permaneceram até o fim apegados à hesychia, pessoas simples, contentes, com toda a razão, unicamente com a oração (euche) que os unia a Deus, só os dois. Os perfeitos (teleios) “podem tudo em Cristo, que os fortifica”.