JEAN GOUILLARD — PEQUENA FILOCALIA
DA ORAÇÃO PURA À ORAÇÃO DE JESUS
Com o correr do tempo, essa noção evagriana vai abandonar boa parte de seu intelectualismo; mas, seu vocabulário é reconhecido através de toda a tradição ligada a ele, ou pelo menos à corrente que ele sistematizou percorre o maior rigor. Mas, o conceito de oração pura continuará a, aplicar-se a uma oração despojada, ao máximo, da multiplicidade e dos pensamentos estrangeiros, bons ou maus (uma expressão que se repete continuamente em nossos autores). É aí que vem inserir-se essa técnica da atenção aos pensamentos, mãe da sobriedade, já no ponto devido com os Padres do Deserto, e que se intensifica, em Hesíquio e no pseudo-Simeão, a um ponto jamais atingido. Sem dúvida, ela não ignorou a introdução do método respiratório.
Pouco a pouco, a oração pura vai confundir-se com a oração de Jesus, à qual vão ser alegados todos os efeitos atribuídos por outros à oração. Uma “escada”, atribuída pela Philokalia a um certo Teófanes, começa assim:
No começo vem a oração soberanamente pura
De onde procede um calor no coração
Depois, uma estranha e santa energia
Em seguida as divinas lágrimas do coração
A paz, que elas encerram, de todos os pensamentos
De onde jorra a purificação do espírito
A contemplação dos mistérios divinos.
Depois dela, indescritivelmente, um ardor
uma iluminação do coração
Consumida por sua vez pela imperfeita perfeição…
Os neo-hesicastas não hesitaram em atribuir todos esses efeitos à oração de Jesus. Para perceber isso, basta. lê-los, ainda que superficialmente.