Jean Gouillard — PEQUENA FILOCALIA
Posição dos padres sobre as técnicas da Oração do Coração
Nicéforo, e principalmente “Simeão”, parecem iniciar pelo exercício respiratório de concentração e só depois passar à invocação mental de Jesus. Gregório o Sinaíta, ressalta mais a simultaneidade. Admite alternância das fórmulas, reduzida ao mínimo, pois não se poderia temer demais o repouso da atenção, já ocasionado pela simples expiração. Por outro lado, a invocação acaba por tornar-se espontânea, mas não mecânica: ela é diretamente operada por Deus — ou, se quisermos, por essa energia do coração, enfim desprendida e libertada, como uma fonte ao termo de uma perfuração. No mínimo meio século mais tarde, Calisto e Inácio recomendarão que se introduzam as palavras ao mesmo tempo que a respiração. Evolução do método ou simplesmente precisão ocasional? A segunda hipótese parece a mais justa. Não se deve esquecer que a descrição dos métodos nunca pretendeu substituir o mestre. Os teóricos estão de acordo ao recusar todo autodidatismo. Exigem completa e estrita submissão a um pai, como se exige ao guru ou ao xeque em outras crenças.
Aliás, a técnica respiratória não é indispensável. Nicéforo prevê que ela possa fracassar. Será então substituída por uma invocação interior que também, cada vez menos, leva em consideração o emprego discursivo das palavras.
Teolepto de Filadélfia, que pertence à geração da renovação hesicasta, nada diz a respeito da técnica respiratória, talvez porque, diretor de monjas, se obrigue a maior prudência. Segundo ele, a unificação interior é obtida por uma espécie de convergência das potências: o intelecto adere à lembrança de Deus (sentimento simples de sua presença), a razão (faculdade do discurso) percorre as palavras da invocação do Senhor, que é certamente a oração de Jesus: enfim, o pneuma (essa espécie de sensibilidade espiritual tocada pelo Espírito), termina numa experiência de compunção e amor.
No campo que nos interessa aqui, de imediato, caberia uma pré-história cristã da oração do coração. Um “Monge da Igreja Oriental” escreveu sobre a Oração de Jesus — o núcleo, como veremos, da oração do coração em sua forma definitiva — um livrinho devoto e bem documentado ‘. Esse livro é, até agora, o guia mais completo e mais acessível sobre o assunto.
Mas, pode-se conceber uma história mais ampla, abrangendo todos os temas que, pouco a pouco, integraram a oração do coração, e principalmente: lembrança de Deus, oração pura, monologia e oração de Jesus, noção do coração, da luz e da experiência consciente do “sobrenatural” (transcrição bastante inadequada da energia divina imanente na alma).