VALENTINO EVANGELHO DE FELIPE

Evangelho copto de Filipe — Manuel Alcalá

El Evangelio copto de Filipe, Alcalá, Manuel, Ediciones El Almendro de Córdoba, S.L., collección en torno al Nuevo Testamento n.14, Córdoba: Espanha, 1992, 204 p. ISBN: 8480050004, ISBN-13: 9788480050005.

Tradução de Antonio Carneiro das páginas 40, 41 e 42

Capítulo Segundo “Gnosis” e Evangelho de Filipe

III. As linhas doutrinais da “Gnosis” Valentiniana.

Para melhor compreensão do comentário ao “Evangelho de Filipe” vamos descrever brevemente a linha doutrinal valentiniana, relativa à criação e redenção do mundo e da humanidade.

Valentino concebe o mistério de Deus como “Abismo” misterioso, mas também como “Plenitude” original de onde emanam “Potências” hierarquizadas e reunidas em “Pares” masculino-femininas. Seu processo emanativo é com segue:

  1. Deus “Pai” transcendente é par da “Ideia”. Seu “Filho” único está ligado à “Verdade”. Eles formam a “Quaterna” inicial. A segunda “Quaterna” consta da “Palavra” do Pai, unida à “Vida” , junto com a potência do “Homem” com a “Igreja” . Ambas quaternas formam a “Octava” , donde pululam 30 “Emanações” ou “Eones” divinos, reunidos em 15 pares. tudo isso é a “Plenitude” cujo “Limite” externo se chama “cruz”.

  2. O “Eão” 30 que é a “Sabedoria” interior, ao desejar compreender à Deus infinito comete uma “falha” original, introduz o mal na “Plenitude” , é excluído e se dilui em “Saberes” dispersos.

  3. Para remediar tal situação, o Pai, cujo par feminino é o “Espírito Santo”, produz o Cristo. O novo “Logos” devolve o equilíbrio da “Plenitude” , ao ensinar-lhe a “Gnosis” e criar uma “Sabedoria exterior” substancial, capaz de harmonizar com os “Eones”, desconcertados até então.

  4. “Cristo” é o “Salvador”, fruto comum da “Plenitude” com o “Espírito” , acumula todos os seus nomes: Logos, Vida, Filho Unigênito, Homem, Filho do Homem, Igreja, Luz, Jesus invisível.

  5. Este Salvador, também chamado de “Jesus de acima” ou “invisível” , origina pelo conhecimento à verdadeira “Sabedoria redentora” , também chamada “Espírito Santo” , que dará origem à três tipos de substância. A primeira é a “Espiritual” (pneumática). A segunda “Anímica” (psíquica). Finalmente a terceira “Material” (hílica), incapaz de redenção. Protótipo de substância química é o “Demiurgo” , Deus do Antigo Testamento, criador do mundo e de seres sinistros (materiais) e destros (psíquicos). Protótipos de substâncias pneumáticas são os “Eleitos” , encarnados em reis, profetas e sacerdotes. São imagens dos gnósticos, antecipadas no Antigo Testamento.

  6. O “Demiurgo” , após fabricar o mundo, modelou o homem “Adão” , de barro fluido, lhe infundiu a “Alma” , sopro da vida, e lhe revestiu de túnica de pele. A “Sabedoria” , contemplando os anjos, engendrou um “Espírito” e o depositou no “Demiurgo” inconsciente. este o infundiu nos “Eleitos” . Por isso a humanidade consta de três tipos de pessoas: materiais, simbolizadas por Caim; anímicos, exemplificados por Abel; e espirituais, cujo protótipo é Seth. Os primeiros não tem salvação. Os segundos podem lográ-la pela sua boa conduta. Os terceiros são os predestinados.

  7. O Salvador Jesus invisível, desce ao mundo como um “Espiritual” . Sua Igreja autêntica é o conjunto de “Eleitos” . Por isso se chama “Corpo de Cristo Espiritual” , integrado por espirituais.

  8. Jesus invisível baixou no Jordão sobre o “Jesus visível” outorgando-lhe o “Logos” pneumático e fazendo-lhe consciência de sua missão e divindade. Maria, sua mãe, lhe havia dado o corpo passível.

  9. Ao completar-se o número previsto de eleitos, virá a “Consumação” final. O Salvador e a Mãe, simbolizados pela “Esposa” e o “Esposo” citados no Evangelho, subirão à “Plenitude” em “Pares de Anjos” (varões) e “Gnósticos” (fêmeas). A alma é o vestido nupcial para entrar no “Repouso” e na Glória. Os “psíquicos” convertidos se salvarão, mas sóâs portas do céu, no interior da “Plenitude”.

Desta síntese apertada pode-se deduzir uma cosmovisão formidável, cheia de criatividade imaginativa e impregnada de inspiração, tanto filosófica (platônica e plotinica) como bíblica (vetero e neo-testamentárias). Tal visão do mundo tinha que ser sumamente atrativa para os intelectuais cristãos da época, quando começava-se a perfilar o diálogo da fé com a cultura de então, tanto em Constantinopla quanto Alexandria, e buscavam-se os modos de expressão do pensamento contemporâneo. No Comentário se verá as pegadas desta cosmovisão.

Notas: