Jesus disse: Porque lavais o exterior do cálice? Não compreendeis que o que fez o interior, é também o que fez o exterior?
Roberto Pla
Explica o logion não só que em cada homem coexistem um homem exterior e um homem interior, mas que ambos têm sua origem em um fazedor comum. Com isto se expressa o logion em paralelo com o terceiro evangelho quando diz: “o que fez o exterior, não fez também o interior?”.
Sobre a duplicidade do homem o Apóstolo fala em várias ocasiões e explica que um destes homens, o exterior, se desmorona sem remédio com suas obras, e o outro, se renova dia a dia até alcançar a (epignosis). Sem dúvida, é nisso, na redução à unidade, no que tende a terminar toda aparente existência dual no mundo. Das duas formas da dualidade, uma delas, a que só é nos limites fechados da temporalidade, consiste em ser para acabar não sendo. Ao final, só perdura na vida única e real, o ser verdadeiro, o que foi e sempre será sem deixar de ser. Em outras palavras: a dualidade só é possível no mundo do não conhecer, do ignorar, porque no eterno, na realidade absoluta, só perdura a unidade (vide Homem Exterior-Interior).
Tinha razão Jesus quando pedia como lavado prévio, a purificação interior do cálice, pois quando nesta culminou a purificação por dentro, sua brancura luminosa desborda e fica purificado o exterior.
Quanto ao cálice bem lavado por dentro e por fora, é então quando está prestes para sua glorificação, que não a sua senão do Pai, porque não se trata de subir ao inalcançável, senão de abrir os olhos, olhar a luz, e vê-la.
Quando o que olha está disposto, o Pai desde a sua morada. Por isso está dito: “O véu do Santuário se rasgou em dois, de cima à baixo” (Calvário).