Jesus disse: Bem-aventurados os que são perseguidos em seu coração, pois são estes os que conheceram ao Pai em verdade. Bem-aventurados os que estão famintos, pois se encherá o ventre de quem o queira. [Bem-aventurados os que sofrem; Bem-aventurados os famintos]
Roberto Pla
Uma única bem-aventurança em duas afirmações, pois é desfrutada em dois tempos consecutivos pelo homem que crê:
O “perseguidor” da alma é sempre o mundo, pois seduzida, inexperiente, crê a alma que somente no mundo que vê está a vida verdadeira. Logo, na medida que “escuta a Palavra de Deus e guarda em si mesma”, aprofunda-se a perseguição do mundo, pois a Palavra penetra na alma como o que é, como o sopro enviado pelo espírito que “no homem está” e que termina por conduzir o homem à origem de si mesmo, ao centro de seu ser, ao Eu puro. Desse si mesmo, é de que falam as Escrituras, no sentido figurado, que é o coração.
Nesse “coração”, a essência última do Ser, é onde sob o véu, está o umbral do conhecimento de Deus; e se se diz “umbral” é porque nesse “lugar” é onde se faz “manifesta” a presença do Filho do homem. Tal parousia é o começo do conhecimento do que Jesus disse: “Se me conheceis a mim, conhecereis também a meu Pai” (Jo 14,7).
O que o logion diz, é que se a perseguição do mundo chegou até a santidade do coração, é sinal de que chegou a hora dos adoradores verdadeiros, os que adoram ao Pai — que é espírito — “em espírito”, e portanto, “em verdade”. Mas adorar em espírito é conhecer e, juntamente, ser conhecido, porquanto o único conhecedor, o que conhece em todos os conhecedores, por ser o conhecimento, é Deus (vide Evangelho de Tomé - Logion 3). Quando o fogo da perseguição do mundo desemboca no coração, ali está, em espírito e em verdade, “o Pai, o que conhece nossos corações” (gr. kardiognostes), e que somente em virtude de seu conhecimento é conhecido.