EVANGELHO DE TOMÉ - LOGION 64

Jesus disse: Um homem tinha convidados, e quando havia preparado a comida, enviou a seus serventes para convidar aos convidados. Este foi até o primeiro e disse: Meu amo te convida. (O Outro) disse: Tenho que cobrar dinheiro de certos comerciantes; têm que vir a minha casa à noite e irei dar minhas ordens. Minhas escusas pela ceia. Foi até outro e lhe disse: Meu amo te convida. Este disse: Comprei uma casa e se me exige um dia: não estarei disponível. Foi até outro e lhe disse: Meu amo te convida. Este lhe disse: Comprei uma granja e vou a ela para receber a renda; não poderei ir. Minhas escusas. O servidor voltou e disse a seu amo: Aqueles aos quais tu havias convidado à ceia, se escusaram. O amo disse a seu servidor: Saia aí fora, nos caminhos; a aqueles que encontrares, traga-os, para que comam, os compradores e os mercadores não (entrarão) nos lugares de meu Pai. Convidados; [Bodas Reais]

Roberto Pla

A parábola que relata o logion é, com algumas variantes, a mesma que dão Mateus e Lucas e que nas versões dos dois sinópticos foram fonte de muitos comentários.

  • Vide Bodas Reais. A versão de Mateus é conhecida habitualmente por esta denominação, e a de Lucas, mais próxima do Evangelho de Tomé se conhece como a parábola “dos convidados que se desculpam”.

Tais comentários da parábola transitaram sempre por sendas da vertente “manifesta”, não isenta, por certo, de superficialidade mundana, em desacordo com o sentido universal e atemporal da parábola.

  • Ainda hoje em dia não se pôde apartar a exegese cristã “manifesta” da antiga tese, muito mundana, de que os convidados que fazem caso omisso da chamada do Filho de Deus são os judeus, embora “uns poucos” dentre eles — diz tal exegese — puderam ser eleitos justamente — isso sim — com os membros da igreja. Seguramente esteve muito longe do pensamento universal e espiritual de Jesus tal exegese quando deu origem à parábola.

Talvez este encaminhamento exegético não tenha conseguido encontrar um sentido comum nos dois relatos canônicos.

  • A teoria geralmente admitida hoje pela teologia é que Mateus combinou duas parábolas: uma análoga à de Lucas 14, 16-24, e outra que só é dada em Mateus nos vv 11ss, Mas estes versículos são a conclusão necessária de toda a parábola, incluindo o texto do Evangelho de Tomé.