Pela última vez, quando do nascimento de Caim, o ex-hóspede do Éden é ainda chamado o Homem (haadam), mas retrospectivamente. É no jardim, onde suas relações sexuais eram puramente extáticas, que o Homem «tinha conhecido Eva sua mulher» e é após sua saída do jardim que tendo feito amor sem dúvida como de hábito sem pensar nas consequências ela se encontrou grávida, e ficou tão surpreendida pelo evento (tão contrário a sua natureza é a parturição) que pensou em dar a luz como algo certamente sacrílego!
«E o Homem conheceu Eva sua mulher…» Gen 4,1. O verbo YD’ (pronunciado «yada») está no «completado», o que marca uma ação «perfeita» mas é precedido de seu sujeito, o Homem, contrariamente à ordem normal das palavras, que é verbo-sujeito em uma proposição principal. Esta inversão indica que a dita ação é anterior ao tempo onde se situa seu enunciado, e que o verbo «yada» deve ser traduzido por um passado anterior. Pelo contrário os verbos das proposições seguintes, principais elas também e coordenados à primeira, estão no «incompleto» eventual e devem ser traduzidos por passados simples. O que dá para o versículo inteiro: «E o Homem tinha conhecido Eva sua mulher, e ela concebeu e ela procriou a Caim, e ela pensou:obtive alguém com YHWH. » (4,1) Uma leitura superficial aproximará esta frase de todas aquelas que na Bíblia saúdam o nascimento de um filho, em justificando seu nome por uma etimologia (frequentemente aproximativa) na medida que há pelo menos uma assonância em hebreu entre o verbo que traduzi «obtive» (QNYTY, pronunciado qaniti) e o nome de Caim (QYN, pronunciado «qaïn»). Mas falta precisamente em 4,1 o verbo QR’ (pronunciado «qara») que figura em todas estas «nominações» mais ou menos esteriotipadas, e que quer dizer «nomear», «chamar», e então «gritar», e que o caracterizam. São gritos de alegria ou de temor. Já o Homem em nomeando a Mulher em Gen 2,13 e Gen 3,20) o emprega. Da mesma forma Eva mais tarde no nascimento de Seth (Gen 4,25) e encontra-se «qara» no nascimento de Enosh depois de Noé (Gen 5,29) na Bíblia das Origens. Não cito os inumeráveis exemplos da Bíblia histórica, onde «qara» é incansavelmente repetido, quando se relata o nascimento dos principais personagens bíblicos. Mas são em geral personagens positivos, enquanto Caim é o personagem negativo por excelência, e os redatores de 4,1 omitiram cuidadosamente de fazer elevar-se um grito de alegria e de confiança a Eva, em o pondo ao mundo. Enquanto o Homem, que tinha aplaudido ao anúncio desta descendência, se cala, Eva não ousa dizer alto o que pensa baixo (é excluído que ela tenha pronunciado a sigla YHWH impronunciável) mas que o texto, para nossa edificação, lhe atribui em empregando o verbo ‘MR (pronunciado «amar») que significa «dizer» mas também «pensar», e é esta última acepção que deve se reter aqui.
Quanto ao verbo que traduzi «obtive» (QNYTY da raiz QNH) é o melhor substituto do verbo «ter» que não existe em hebreu. Está no «completado» e em uma frase no regime direto pode ser traduzido por um presente assim como por um passado. Pode-se compreender que Eva «pensa»: «tenho alguém com YHWH» não somente com terror mas com horror… Não lhe basta ter «alguém» (o texto evita cuidadosamente a palavra «filho») subitamente a seu cargo, se é além do mais com este Deus do qual ela quer precisamente se afastar, e que parece persegui-la…