Relato dos Seis Dias: Gn 1,31 – Sexto dia

Chouraqui

31 Elohîms voit tout ce qu’il avait fait, et voici: un bien intense. Et c’est un soir et c’est un matin: jour sixième.

Nothomb

[(Gen 1,31 E «Deus» viu tudo que tinha feito (fazer) e eis (era) muito bom. Houve uma duração completa («uma noite e uma manhã»). Dia o sexto.)]

Esta vez não é mais uma parte de sua obra que Deus declara «boa» assim como a «viu» em seis ocasiões desde o início do relato, é em seu conjunto agora que ela está realizada, com a Criação do Homem, e isso que acaba de dizer-lhe, que ele declara «muito bom». Sua «obra» (em hebreu a palavra aparecerá no texto em Gen 2,2 a seguir) é aqui «tudo isso que fez» ou melhor «fez fazer». Mas por quem? Por quem Deus fez fazer isso que não expressamente Criou? Ou por que? Pode-se pensar, como sugeri anteriormente, na dinâmica da Evolução impulsionada a princípio pelo «Criou» inicial, depois pelo «Criou» do Gen 1,21 enfim pelo triplo «Criou» de Gen 1,27 e que esgota as potencialidades contidas nestes «saltos qualitativos» sucessivos. Mas é se colocar na perspectiva tradicional que interpreta este relato como um ensaio de «cosmogonia objetiva» enquanto aí vejo uma «cosmogonia subjetiva» se desenrolando «na cabeça do homem», presente desde o início, como o será cronologicamente no Segundo Relato. E nesta interpretação que é a minha, e que creio boa, apesar do quadro didático dos Seis Dias, só pode ser o Homem ele mesmo a quem Deus «faz fazer» e que «inventa» pouco a pouco a Realidade que Deus «no princípio» Criou em germe «em sua cabeça». Precisarei isto no versículo seguinte.

As traduções de nossas bíblias negligenciam o artigo definido que precede em hebreu o adjetivo numérico «sexto» qualificando a palavra «dia». A sintaxe desejaria que o adjetivo sendo determinado o nome que ele qualifica o seja também. Esta anomalia chama sem dúvida a atenção sobre o caráter particular deste «sexto dia», aquele da Criação do Homem. E veremos que ela se reproduz no sétimo dia.

Souzenelle

[(E vê Elohim tudo o que fez. E eis realizado com poder. É uma noite, é uma manhã, dia O sexto])

Elohim vê o que é feito
ou seja, o que é realizado em seu princípio
Um trocadilho hebraico entre o superlativo “muito”
(que eu traduzo aqui “com poder”)
e o nome de Adão
vamos dizer que a realização total está nas mãos de Adam
que tem todo o poder de se tornar luz total

Este dia “o sexto”
é caracterizado pela presença
do artigo definido:
“O” antes do adjetivo numeral “sexto”

Este dia é crucial:
Adão resume toda a criação. Quem é ele ?

Sombra de Deus, irrealizado divino e futura esposa de Elohim,
Adão é para Elohim o que sua costela “feminino” é para ele

A mesma autonomia que preside a vida das energias em sua parte feminina,
preside sobre sua própria vida em seu relacionamento com Deus

Uma liberdade formidável é conferida a ele
É inseparável da informação alimentar que recebe

A vida da humanidade
como a de cada homem,
reproduz a história dos seis dias
A humanidade (como cada homem)
é chamada a continuar sua gestação até a semelhança

O sexto dia é aquele quando Adão em um primeiro momento
está ainda identificado ao mundo animal — é apenas feminino
No segundo tempo do sexto dia
nós o vemos entrar na imagem, tornar-se o Adão pois é nutrido, informado

Eis porque três verbos presidem estes primeiros capítulos da gênese:

— criar — que é “pôr no ver”, dispor a alteridade

— formar — que é informar, formar desde de dentro

— fazer — que é realizar

No sexto dia, em sua segunda parte,
o Homem informado é o germe do NOME

Até agora era visto a partir do modelo,
agora, do outro lado do espelho, o Homem está pronto para ver o modelo,
o potencial energético que ele carrega dentro de si para retornar ao modelo
e a absoluta necessidade de voltar a ele

A liberdade concedida ao homem para fazer isso
não tem nada em comum com a ideia que temos de liberdade,
nós que ainda pertencemos apenas à parte animal do sexto dia
e que ainda não nos tornamos homens.
A única coisa que podemos dizer
é que essa liberdade é contraditória
à nossa necessidade de nos tornarmos
perfeitamente semelhantes
ela pertence a uma realidade
que está além de tudo o que podemos conceber do amor

Fabre d’Olivet

31. Alors considérant toutes ces choses qu’il avait faites en puissance, comme présentes devant lui, il avait vu, LUI-les-Dieux, qu’elles seraient bonnes selon leur mesure. Et tel avait été l’occident, et tel avait été l’orient, le but et le moyen, le terme et le départ, de la sixième manifestation phénoménique.

LXX

(1:31) και ειδεν ο θεος τα παντα οσα εποιησεν και ιδου καλα λιαν και εγενετο εσπερα και εγενετο πρωι ημερα εκτη

Vulgata

(1:31) viditque Deus cuncta quae fecit et erant valde bona et factum est vespere et mane dies sextus