Relato dos Seis Dias: Gn 1,21 – Deus criou animais rastejantes

Chouraqui

[(21 Elohîms crée les grands crocodiles, tous les êtres vivants, rampants, dont ont foisonné les eaux pour leurs espèces, et tout volatile ailé pour son espèce. Elohîms voit: quel bien!)]

Nothomb

[(Gen 1,21 E «Deus» Criou os grandes crocodilos e todos os animais rastejantes que fervilham as águas segundo suas espécies e toda «passarada» alada segundo sua espécie. E «Deus» viu que (isso era) bom.)]

O emprego muito parcimonioso do verbo BR’, Criar, neste relato dito da Criação em Seis dias é um dos traços mais significativos e menos notados. Contrariamente a nossas línguas, o hebreu não tem nenhuma repugnância em utilizar várias vezes em seguida a mesma palavra, se é esta que convém. Ora depois de sua dupla valorização no início do texto, do qual as três primeiras letras evocam suas três consoantes, que encontramos isoladas na unidade gráfica que segue e que representa o primeiro verbo da primeira proposição da Bíblia BR’, Criar sofre do Gen 1,1 – versículo 1 ao versículo 21, o nosso, um eclipse total. Deus, propriamente falando, não Cria nem a luz do dia nem a noite, nem céu, nem a terra, nem a vegetação, nem os astros, nem o tempo, nem o espaço. Além do mais ele os «pensa», os nomeia, os faz, os aprova no curso dos quatro primeiros «dias». Mesmo com Deus por sujeito, estes verbos não são absolutamente sinônimos de BR’, Criar. Não somente porque BR’ não pode ter por sujeito senão Deus, o que não é o caso, mas sobretudo porque eles podem ter outros objetos que o seu, que lhes é qualitativamente inacessível. Impossível. Pois se em hebreu o que é Criado o é sempre pelo Criador, o que ele Cria é sempre inaudito, sem precedente, sem medida comum com o que já existe e certamente não reproduzível. No princípio, é o que denominei a Realidade («o céu e a terra») que Deus Cria progressivamente na cabeça do Homem para liberá-lo, ele e o universo, da inextricável confusão do Tohu Bahu eterno. É então a organização de seu espírito, as condições de seu pensar, as categorias «passivas» do tempo e do espaço que se juntam na ideia de movimento. Mas do movimento ele também passivo. Esse do reino vegetal como do reino animal. Esse das partículas elementares da matérias como dos organismos vivos, desprovidos que seja de um embrião de cérebro, e que, «browniano» ou periódico, frenético ou ondulatório, não é jamais, no grande jamais espontâneo. E não pode se tornar por ele mesmo, no termo de uma evolução, seja ela Criadora. Eis porque os «grandes crocodilos» são aqui subitamente honrados, mais do que foram a luz, o tempo, o espaço, etc.. Mais que os astros majestosos, mais que a vegetação luxuriante. Os maiores (logo no topo na classificação bíblica) dos primeiros animais são o objeto nomeadamente de uma nova Criação. Complemento de objeto direto do segundo verbo BR’ do relato, que separa qualitativamente o reino mineral como o reino vegetal do reino animal que inauguram o quinto «dia». Para ser tão pouco que seja autônomos, capazes de escapar (ou não) a obstáculos surgindo diante deles de maneira imprevisível, para suscitar na cabeça do Homem a primeira ideia concreta desta coisa maravilhosa e inapreensível que chamaríamos «liberdade», os peixes e os pássaros devem ser Criados, e não simplesmente «produzidos». E Deus aprova em seguida sem exame, nem verificação.

Logo não há fase de pôr em obra como os dias precedentes. Esta Criação é apresentada como instantânea e plenamente executória. A liberdade que Cria não é analisada, mesmo se ela não é aqui global, e limitada à liberdade de movimento.

E pela primeira vez também o texto vai fazer falar Deus em discurso direto.

Souzenelle

[(E criou Elohim os peixes, os grandes, e toda alma de vida: a rastejante que abunda as águas segundo sua espécie. E Deus viu porque realizado.)]

Depois do anúncio do primeiro versículo que reunia a totalidade da obra, é a primeira vez que aparece o verbo criar Bara, literalmente “no ver”. Deus põe “no ver”, face-a-face: — os germes no úmido irrealizado e — os germes no seco realizado.

Fabre d’Olivet

21. Et LUI, l’Être des êtres, avait créé l’existence potentielle de ces immensités corporelles, légions de monstres marins, et celle de toute âme de Vie, animée d’un mouvement reptiforme, dont les eaux émettaient à foison les principes, selon leur espèce, et celle de tout oiseau à l’aile forte et rapide, selon son espèce : et considérant ces choses, LUI-les-Dieux, il avait vu qu’elles seraient bonnes.


21. Y Él — el Ser de los Seres, produjo y formó (creó) la existencia individual de las mayores amplitudes corpóreas (legiones de monstruos marinos) y el de toda alma de vida movida por movimiento contráctil, la cual originaban en abundancia las aguas según la especie de los mismos; y la de todo volátil de ala fuerte y rápida, según su especie, y Él, los Dioses, vio esto así, bueno.

LXX

(1:21) και εποιησεν ο θεος τα κητη τα μεγαλα και πασαν ψυχην ζωων ερπετων α εξηγαγεν τα υδατα κατα γενη αυτων και παν πετεινον πτερωτον κατα γενος και ειδεν ο θεος οτι καλα

Vulgata

(1:21) creavitque Deus cete grandia et omnem animam viventem atque motabilem quam produxerant aquae in species suas et omne volatile secundum genus suum et vidit Deus quod esset bonum