Filho Pródigo [ASIEC]

A Sabedoria eterna, abrindo a boca, nos diz a respeito do Filho Pródigo: «Então entrando em si mesmo, disse: Quantos mercenários de meu Pai têm pão em abundância, e eu morro de fome aqui! Me erguerei e irei a meu Pai» (Lc XV, 17).

Quais são estes mercenários do Pai que têm pão em abundância? São os Anjos conservados fieis, as hierarquias celestes que realizam sem desânimo sua ronda eterna, semelhantes aos astros em seus movimentos imutáveis: estas divinas essências cuja inteligência está fixada invariavelmente na Contemplação da Teocracia se satisfazem do Pão superabundante da Divina Supraessência.

Mas o Filho Pródigo lhes é superior: é o Adão que Deus ordena aos Anjos de adorar. Pois Adão foi criado à imagem e à semelhança de Deus, enquanto os Anjos só são “aspectos” divinos, servidores, mercenários; os Anjos são periféricos, Adão é o reflexo direto do Centro divino. No Espelho Celeste, os Anjos contemplam os Nomes divinos suas divinas essências imutáveis. Adão é o centro do Espelho onde se reflete a Supraessência da Deidade, o Verbo de Deus, a Revelação Suprema de Deus a ele mesmo. Enquanto Afirmação dele mesmo, do Si eterno e imutável, ou da Transcendência divina, o Verbo se identifica ao Filho mais velho da parábola, aquele ao qual o Pai responde: «Tu meu filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que tenho é de ti» (Lc XV,31). Enquanto Negação aparente dele mesmo, ou Afirmação da Imanência divina, — Negação inclusa na Possibilidade universal implicando para o Infinito divino o poder de se negar ele mesmo ilusoriamente e em aparência — o Verbo, em sua «determinação adâmica», se identifica ao Filho Pródigo, que dilapida seu bem «em um país longínquo» (Lc XV,13): é o Si divino que se «perde» na Existência universal, é o Uno que «se dispersa» na multiplicidade; é o Centro que «irradia» sobre a circunferência; é a Efusão, a Irradiação da Essência divina (Deus Caritas est) que «transborda» sobre as possibilidades, para as conduzi-las à Existência.

Neste estado de dispersão, tendo dilapidado todo seu bem, o Filho Pródigo acaba por «morrer de fome». Enquanto «entra nele mesmo»; se recorda dos mercenários que têm pão em abundância, e se lembra do Pai: é o Bodhisattva, o ser que “desperta”. Ele diz: «Vou a meu Pai». Demandará ser tratado como um dos mercenários (Lc XV,19), tendo consciência de seus limites. Mas o Pai sabe que ele é mais que os servidores, e mais que o Filho mais velho que permaneceu fiel, pois ele é «o Si Pródigo que se lembra dele mesmo»: «Ele estava morto e voltou à vida; ele estava perdido e foi reencontrado».

[ASIEC]