FIGUEIRA DESABROCHANDO (Mt XXIV, 32-35; Mc XIII, 28-31; Lc XXI, 29-33)
VIDE: Figueira
Aprendei, pois, da figueira a sua parábola: Quando já o seu ramo se torna tenro e brota folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas essas coisas, sabei que ele está próximo, mesmo às portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas essas coisas se cumpram. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão. (Mt 24:32-35)
Da figueira, pois, aprendei a parábola: Quando já o seu ramo se torna tenro e brota folhas, sabeis que está próximo o verão. Assim também vós, quando virdes sucederem essas coisas, sabei que ele está próximo, mesmo às portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração, até que todas essas coisas aconteçam. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. (Mc 13:28-31)
E disse-lhes uma parábola: Olhai para a figueira, e para todas as árvores; Quando já têm rebentado, vós sabeis por vós mesmos, vendo-as, que perto está já o verão. Assim também vós, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o reino de Deus está perto. Em verdade vos digo que não passará esta geração até que tudo aconteça. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não hão de passar. (Lc 21:29-33)
Eckhart – Sermão 68 — Scitote, quia prope est regnum dei.
Sumário traduzido da versão francesa dos Sermões de Mestre Eckhart, por Jeanne Ancelet-Hustache
Lê-se o texto de São Lucas no evangelho do segundo domingo do Advento no antigo missal dominicano.
Todo o sermão se aplica a fazer compreender o que é o conhecimento de Deus e de seu reino. Não apresenta dificuldades particulares. Os diferentes pontos da exposição não estão claramente delimitados, no entanto o predicador nos fala ao final das cinco condições às quais deve responder o homem para conhecer Deus: os cinco pontos um pouco flutuantes de seu discurso.
Se se quer entrar em possessão de uma coisa, deve-se conhecê-la plenamente. Os mestres estão de acordo para dizer que a beatitude consiste em conhecer Deus (scitote). “Tenho em minha alma um poder que é absolutamente receptivo a Deus”. Temos uma vez mais reconhecida a “pequena centelha da alma”, embora Mestre Eckhart tenha em muitos outros textos recusado denominá-la “poder”.
Deus está presente por toda parte, mesmo na pedra ou na madeira, mas tenho a vantagem sobre as criaturas inanimadas de saber que Deus está próximo de mim (“prope”), mas próxima que eu o sou de mim mesmo.
O reino de Deus (regnum Dei) é Deus ele mesmo. A alma que sabe que Deus está próximo dela não tem necessidade de sermões nem de ensinamento, ela está assegurada da vida eterna.
Pode-se reconhecer igualmente Deus em todas as criaturas. O melhor meio de o servir é pelo amor obtido no temor. Pode-se orar tão bem nos campos quanto na igreja.
Do mesmo modo que nada pode fazer desviar o céu de sua via, a alma fortalecida que quer conhecer Deus não deve se deixar desviar nem pela alegria nem pela aflição nem por qualquer outro sentimento ou circunstância. Ela deve buscar Deus acima do tempo e do espaço e, para assim fazer, se desapegar de todas as criaturas que nada são (sabemos que esta é uma ideia cara a Mestre Eckhart), e se desapegar ela mesma. Embora este desapego seja difícil no início, parece menos a medida que o homem avança. A alma se encontrará então em Deus, assim como tudo que ela se desapegou.
Os mestres perguntam como é possível que o homem conheça Deus: Deus ele é tão próximo e tem um tal desejo de se dar à alma que se ela se abre e consente em segui-lo, ele a fará alcançá-lo.
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 45
As palavras que vêm de Deus, as que dá o Espírito, não são de condição transitória como as humanas, senão que ao estar instituídas sobre a sabedoria verdadeira levam em si mesmas a significação de sua própria eternidade. Isto o diz Jesus de maneira muito explícita : “O céu e a terra passaram, mas minhas palavras não passarão.”
Mas que coisa são essas palavras mais duradouras que o céu e a terra e que o homem bom toma de seu bom tesouro? Conta o apóstolo em sua segunda epístola aos coríntios que quando foi arrebatado ao paraíso, “ouviu palavras inefáveis que o homem não pode pronunciar (2Cor 12,4), e sem dúvida, essas palavras que se ouvem sem que seja quebrado os silêncio não são outra coisa que o modelo perfeito, no seio da Palavra: “as palavras verdadeiras de Deus” (Ap 19,9), que desde a pura raiz divina descem sobre o mundo como moldes para as palavras transitórias com que se expressa a sabedoria humana.