Fenômenos do Mundo [MHSV]

Na Grécia as coisas são chamadas de “fenômenos”. “Fenômeno”, phainomenon, vem do verbo phainesthai, que encerra a raiz pha-, phôs, que significa “luz”. Phainesthai quer dizer mostrar-se vindo à luz. “Fenômeno”, então, quer dizer o que se mostra vindo à luz, vindo à luz do dia.1) A luz para onde vêm as coisas para se mostrar na qualidade de fenômenos é a luz do mundo. O mundo não é o conjunto das coisas, dos entes, mas o horizonte de luz em que as coisas se mostram na qualidade de fenômenos. O mundo não designa, [25] pois, o que é verdadeiro, mas a própria VERDADE. Os fenômenos do mundo são as coisas enquanto se mostram no mundo, o qual é sua própria “mostração”, seu aparecimento, sua manifestação, sua revelação. Na interpretação grega das coisas – dos “entes” – como “fenômenos” já está implicada a intuição que será retomada pela fenomenologia contemporânea e lhe servirá de princípio fundador – a saber, a ideia de que o que é (a nuvem, o círculo, etc.) não “é” senão enquanto se mostra, enquanto fenômeno precisamente. Por conseguinte, o que é é o que é verdadeiro; de modo que, ao fim e ao cabo, o ser de tudo o que é, o Ser enquanto tal, é a verdade enquanto tal, o puro fato de se mostrar considerado em si mesmo, como aparecimento e como manifestação pura. MHSV: I


  1. Sobre isto cf. M. Heidegger, Sein und Zeit. Niemeyer, Halle, 1941, p. 29; trad. francesa Gallimard, p. 55. E nosso comentário in Phénoménologie Matérielle. Paris, PUF, 1990, p. 112 ss. (Coleção “Epimethée”