Giuseppe Faggin — Meister Eckhart e a mística medieval alemã
HENRIQUE SUSO
Alie selne inneren Sinne sangen
Nem a vida exterior nem o pensamento de Eckhart, tal como chegaram até nós, poderiam constituir um verdadeiro misticismo. Ainda que conheçamos com certa amplitude os acontecimentos exteriores de sua existência histórica, é impossível penetrar profundamente na intimidade de seu sentimento e de suas experiências religiosas. Também suas obras revelam uma necessidade profunda de universalidade e se propõem ser uma construção objetiva baseada sobre princípios lógicos e metafísicos, ainda que a atitude característica do gênio místico condicione e valorize todo o seu pensamento expressado. O mesmo silêncio e o mesmo pudor envolvem a vida e os sermões de Tauler, a quem só impropriamente podemos chamar de “místico”. Na escola eckhartiana somente Suso é o místico autêntico: sua vida, com seus frequentes raptos, com suas visões, com seus êxtases e suas efusões sentimentais é, não menos que a de Santa Teresa, a de São João da Cruz ou a de Madame Guyon, uma expressão luminosa das peculiares manifestações do fenômeno místico. Seus escritos confirmam também, com a exuberância do estilo, das imagens e de suas preciosas confissões, a natureza excepcionalmente teopática de seu espírito.
Suso, na integral catolicidade de seu pensamento e na efervescência de seu sentimento e de sua fantasia, não está, como poderia parecer, nos antípodas do misticismo especulativo de Eckhart, senão que é, por assim dizer, a outra face da mesma atitude espiritual e ao mesmo tempo oferece uma precisão psíquico-confessional do momento especulativo eckhartiano. Portanto, a narração de sua vida não interessa apenas do ponto de vista estritamente biográfico, mas sobretudo como documento de experiência mística em sua forma e em suas manifestações essenciais.
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