Tradução Ephraim Ferreira Alves
2. O homem
“Pela graça de Deus, sou homem e cristão, pelos atos grande pecador, por estado peregrino sem-teto, da mais baixa condição social, sempre errando de lugar em lugar. Como propriedade levo apenas às costas um saco com pão seco, na blusa a Santa Bíblia, e é tudo”. Essas palavras bastarão para esboçar a figura da personagem.
No terceiro relato, o homem faz um retorno ao passado. Natural do distrito de Orei, é recolhido aos três anos, depois que desapareceram seus pais, por um avô proprietário de um albergue à beira de uma estrada importante, homem bom que o ensina a ler e escrever. Uma noite, seu irmão embriagado o derruba do estrado onde dormia e ele cai sobre o braço, desde então atrofiado. Casam-no com uma mocinha boa e séria. Depois da morte do avô, herdam o albergue. Mas o irmão furioso, por não ter sido contemplado com a herança do velho, põe fogo ao prédio. O casal consegue fugir às chamas e salvar seu bem mais precioso, esta Bíblia que o futuro peregrino gosta de ler para a mulher:
Ambos observam os jejuns de preceito, prostram-se diante dos ícones, rezam com fervor. Um mestre revela ao moço que “existe no interior do homem uma oração misteriosa, que ele mesmo nem sabe como é que se produz, mas que incita cada pessoa a rezar como pode e sabe”.
Essa existência de costumes simples e piedosos não dura muito, pois a doença leva consigo a esposa. Acabrunhado de dor, o marido cai em soluços sempre que vê a roupa ou o cachecol da mulher. Vende seu barraco e faz-se ao largo, levando consigo somente a Bíblia e seguindo no rumo de seu olhar:
Esse relato anedótico aí se encontra somente para ilustrar, na biografia do peregrino, a procura fundamental, aquela que agora vai absorver toda a sua energia, a da oração. E é desencadeada por uma palavra que o subjuga.