Evangelho de Tomé – Logion 95

Pla

Jesus disse: Se tens dinheiro, não o deis com usura, mas o dê àquele de quem não recebereis.

Puech

Suarez

Meyer

Canônicos


Roberto Pla

O que antes de tudo recomenda Jesus, não é repartir a esmola, pois entra em uma prescrição natural de ordem mundana, senão dar o que se tem para alcançar a perfeição de ser pobre para sempre (Pobres de Espírito). Por isso diz que a entrega tem que ser sem devolução, sem recompensa que nos faça novamente ricos.

Este mesmo sentido tem a proibição imposta aos Doze — os “perfeitos” evangélicos — que vão empreender o Caminho: “não tomeis nada, nem bastão, nem alforge, nem pão, nem dinheiro, nem tenhas duas túnicas”. [v. apostolado]

No caminho ascético que leva à cruz que cada um deve carregar sobre si mesmo, a alma, pronta a morrer para dar fruto, deve entregar todos os tesouros aderidos com o quais se identifica e nos quais se resguarda para eludir a negação de si mesma: o bastão em que se apoia; o alforje onde armazena suas reservas; o alimento, o pão da alma; as riquezas de signo mundano, a vida mortal; e as falsas e errôneas vestimentas com as quais crê fortalecer sua personalidade.

Também, daquele homem chamado Zaqueu, o que foi reputado como salvação foi que ao anúncio da “presença” de Cristo em sua “morada”, se pôs “em pé”, isto é, se elevou sobre si mesmo e decidiu entregar — negar — a metade de seus bens.

Zaqueu adotou a pobreza do espírito, da essência; se desprendeu dos agregados da alma, o que constituíam a metade terrena de seu “tesouro”, e só conservou a essência, o espírito, o qual é o tesouro verdadeiro, a metade celestial e eterna do que ele acreditava ser. Por isso foi salvo.

Roberto Pla examina então o sentido profundo, oculto, da reflexão de Jesus por motivo da deserção daquele jovem que não resultou capaz de abandonar suas riquezas.