Evangelho de Tomé – Logion 94

Pla

Jesus disse: O que busque encontrará e o que chame se lhe abrirá.

Puech

Suarez

Meyer

Canônicos


Roberto Pla

O que todo homem encontrará se o busca com fé inteligente e desperta, com perseverança e com pureza de fins, é a pérola interior, seu Ser verdadeiro, a fonte inesgotável de alegria e bem-aventurança, pois esse é o sentido profundo da Boa Nova.

Com “fé inteligente e desperta” quer dizer que a pérola está aí [Dasein?], em um mesmo, com permanência eterna e tão firme como sua própria eternidade, e isso há que crê-lo. A inteligência consiste em entender que não há motivo para duvidar de que a pérola pode ser encontrada. Tudo isso é a fé verdadeira, não uma fé dormida, forçada, senão a fé do convencimento.

Com “perseverança”, quer dizer que há que insistir nisso e que não importa que sejam muitos os dias do deserto, porque é certo que ao fim se apagará o clamor da alma em sua solidão.

Com “pureza de fins”, quer dizer sem finalidade nenhuma, porque a pérola, como é eterna, não tem finalidade; a pérola é sua própria finalidade, porque ela é a eternidade e a fonte do eterno.

Jesus assegura a todos que a pérola será encontrada e que as portas que impedem o encontro serão abertas. E como não há de estar assegurado o encontro se a pérola é o si mesmo, intransferível de cada um? Está dito: “Cada uma das portas está feita de uma só perola” (Ap 21,21).

Se se insiste na busca, e isso é “chamar” porque não há outra chamada, outro grito; se se insiste em buscar, porque se necessita o buscado, ocorre que a resposta está aí, quieta e tranquila, como sempre esteve, ainda que a alma não saiba. Isto há que entendê-lo, pois está dito: “Em meio de vós está um — a pérola, o tesouro — a quem não conheceis”. E se está no meio de nós é porque é o nós mesmos.

Quando se compreende ao final; quando a alma se dá conta de que aquele que ela espera, está aí próximo, às portas, e que não há de vir, porque já está; que não há que chamá-lo, porque é o companheiro eterno que nunca faltou, então, olha a seu interior profundo, à essência da essência, ao Eu de seu eu, e o encontra, e então sobrevém uma inundação de alegria que tudo preenche e que a seu passo aniquila as águas turvas.

Isso é a alegria de ser, a bem-aventurança de crer sem ver e de ver sem olhar, porque não faz falta. A segurança, a paz, advém, pelo fato de que o Si mesmo — a pedra angular tanto tempo desprezada — é sempre “um mesmo”, inseparável do Ser, consubstancial com a luz do conhecer e o poder da Vida.

O que em verdade encontra um dia a alma que busca é a presença do Espírito que “mora em nós e em nós está”. Depois, ver vir a presença não é outra coisa que “dar-se conta” de que já estava antes e de que está agora.

E depois de haver-se dado conta, coisa que só pode ocorrer em quem creu, o que resta é “vigiar”, estar alerta sempre em todo momento, porque a presença, que está sempre, só estará presente para ti quando tu te dês conta de que está. Não é ela a que vem, senão tu que a “des-cobre aletheia” uma e outra vez.

Quem persevera, poderá ver a presença que se adentra na alma, que a queima e se assenhora dela até que fixa nela, para sempre, sua mansão.

E se a presença queima à alma é porque é um “fogo devorador” o que baixa do céu; esse fogo com o qual Jesus anelava incendiar a terra, e no qual, com efeito, todos havemos de arder, porque essa é a obra.

Quando já alma está incendiada, bem aventada nela a palha que ensombrecia o grão, nasce no homem de consciência de “acima”, quer dizer, a consciência de ser “homem em Cristo” (2Cor 12,2), e com este – nascimento “em Espírito” dão começo os trabalhos da exaltação.

Roberto Pla elabora uma exegese das passagens do evangelho de João onde se trata de levantar Jesus na cruz e de sua exaltação, veja Nascer do Alto; Sinal da Cruz; Levantado da terra. Veja também Evangelho de Tomé – Logion 38.