Evangelho de Tomé – Logion 86

Pla

Jesus disse: As raposas têm covis e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do homem não tem um lugar para apoiar sua cabeça e repousar.

Puech

86. Jésus a dit : [Les renards ont leurs tanières] et les oiseaux ont [leur] nid, mais le Fils de l’Homme n’a pas d’endroit pour appuyer sa tête (et) se reposer.

Suarez

1 Jésus a dit : 2 les renards ont leurs tanières 3 et les oiseaux possèdent leur nid; 4 mais le Fils de l’homme n’a pas d’endroit 5 où incliner sa tête et se reposer.

Meyer

86 (1) Jesus said, “[Foxes have] their dens and birds have their nests, (2) but the child of humanity [Or “son of man.”] has no place to lay his head and rest.” [Cf. Matthew 8:20 (Q); Luke 9:58 (Q); Plutarch Life of Tiberius Gracchus 9.4–5; Abu Hamid Muhammad al-Ghazali Revival of the Religious Sciences 3.153.]

Canônicos

mt.8.20 και [AND] λεγει [SAYS] αυτω ο [TO HIM] ιησους [JESUS,] αι [THE] αλωπεκες [FOXES] φωλεους [HOLES] εχουσιν [HAVE,] και [AND] τα [THE] πετεινα [BIRDS] του [OF THE] ουρανου [HEAVEN] κατασκηνωσεις [NESTS,] ο δε [BUT THE] υιος του [SON] ανθρωπου ουκ [OF MAN] εχει [HAS NOT] που [WHERE] την [THE] κεφαλην [HEAD] κλινη [HE MAY LAY.] (Mt 8,20)


lk.9.58 και [AND] ειπεν [SAID] αυτω ο [TO HIM] ιησους [JESUS,] αι [THE] αλωπεκες [FOXES] φωλεους [HOLES] εχουσιν [HAVE,] και [AND] τα [THE] πετεινα [BIRDS] του [OF THE] ουρανου [HEAVEN] κατασκηνωσεις ο [NESTS;] δε [BUT THE] υιος του [SON] ανθρωπου ουκ [OF MAN] εχει [HAS NOT] που [WHERE] την [THE] κεφαλην [HEAD] κλινη [HE MAY LAY.] (Lc 9,58)


Roberto Pla

Não tem um lugar o Filho do homem porque o espírito, o ser essencial de todo homem não foi “formado” (plasis), mas “feito” (poiein) (v. Antonio Orbe, “ANTROPOLOGÍA DE SAN IRENEO”). A forma veio depois, no paraíso, e então foi quando o uno, vindo a ser composto macho e fêmea, à imagem e semelhança, se dispersou em muitos filhos de Deus. Mas o Homem em um princípio foi “feito”, e por isto foi, enquanto essência pura do homem, luz à imagem da Luz: o Filho do homem.

Daí que o Filho do homem carece de forma em si mesmo, pois o revestimento celeste veio depois, e não tem “lugar”, nem limites, nem contorno; e tampouco tem tempo, nem espaço, nem caminho, senão eternidade, tal como está dito: “Há designado um lugar para a aurora? Por onde se vai à morada da luz?

Não, não há “um lugar” para o que é “o lugar”, assim como não há que buscar “um caminho” para chegar ao que é “o Caminho, a Verdade e a Vida”. É no mundo de raposas e pássaros onde há covis e ninhos, mas quanto Filho do homem, ele é “o lugar” de si mesmo, “o lugar” no que possa albergar-se a infinita solidão do que é “um”, como o são o Pai e ele.

Tudo isto o explicou muito bem Jesus quando disse “ninguém conhece bem o Filho senão o Pai”. Mas não conhecer bem é não conhecer senão por sinais. Em verdade não há caminho para conhecer ao Filho e ao Pai, e essa é a grande dificuldade com a que tropeça o homem quando pretende tomar como objeto “a graça e a verdade” de Jesus Cristo. Cristo, Cristo oculto, nunca é objeto de conhecimento, porquanto ele é o conhecedor, e quem poderia conhecer ao conhecedor? Tampouco há direção para encontrar o lugar a onde mora quem é o lugar mesmo. Essa é pergunta de neófitos; a que o fizeram a Jesus aqueles dois discípulos dos que dá referência o evangelho: “Rabi, onde vives?”.

Os covis e os ninhos são lugares válidos de alojamento no mundo “manifestado”; mas Cristo não se manifesta ao mundo, para o qual permanece “oculto”, senão só ao que o ama e guarda sua Palavra [Logos], quer dizer, aos que sabem ver e “transpassar” no oculto. Daí a pergunta que Judas — e não o Iscariote — o dirigiu a Jesus: “Senhor, que passa para que te vás a manifestar a nós e não ao mundo”.

O que ocorre com o “lugar”, passa também com o “repouso”. O Filho do homem, em sua solidão de ser Uno, não tem em quem repousar. É ele quem como Espírito de Glória não dá seu repouso, quando já “manifesto” repousa sobre os que o amam. Entretanto, para aqueles ainda permanece “oculto”, porque não o amam “com todo seu coração, com toda sua alma e com toda sua força”(= espírito, poder de Deus), tal como está prescrito, para estes foi dito: “Não entraram em meu repouso”.

Quando o Filho do homem se manifesta na consciência do homem regenerado, nascido em Espírito, e que tomou sobre se o “jugo de Cristo”, o entrega ele seu repouso que serve de descanso definitivo a sua alma. Este é o descanso que o Senhor difunde sobre aquele que se sabe, ao final, perfeitamente Uno.

Em uma de suas explicações acerca de todas estas coisas, confirmou Jesus sua grande promessa de unidade com os que a amam: “Meu Pai o amará e viremos a ele e faremos morada nele”.