Evangelho de Tomé – Logion 79

Pla

Uma mulher entre a multidão lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te portou e os peitos que te alimentaram. Ele disse: Bem-aventurados os que escutaram a Palavra do Pai e a observaram em verdade. Mas dias virão em que direis: Bem-aventurados o ventre que não concebeu e os seios que não amamentaram.

Puech

79. Une femme dans la foule lui dit : Heureux le ventre qui t’a porté et les [seins] qui t’ont nourri. Il [lui] dit : Heureux ceux qui ont écouté la parole du Père (et) l’ont observée en vérité. Viendront, en effet, des jours où vous direz : Heureux le ventre qui n’a pas conçu et les seins qui n’ont pas allaité.

Suarez

1 Une femme dans la foule lui dit : 2 bienheureux le ventre qui t’a porté 3 et les seins qui t’ont nourri ! 4 Il lui dit : 5 bienheureuses celles qui ont entendu le Verbe du Père, 6 l’ont observé en Vérité ! 7 Car il y aura des jours où vous direz : 8 bienheureux le ventre qui n’a pas conçu 9 et les seins qui n’ont pas donné de lait.

Meyer

79 (1) A woman in the crowd said to him, “Blessed is the womb that bore you and the breasts that fed you.” [Cf. Luke 11:27–28 (Q?); Petronius Satyricon 94]

(2) He said to [her], “Blessed are they who have heard the word of the Father and have truly kept it. [Cf. John 13:17; James 1:25] (3) For there will be days when you will say, ‘Blessed is the womb that has not conceived and the breasts that have not given milk.’” [Cf. Luke 23:29; Matthew 24:19; Mark 13:17; Luke 21:23; Gospel of the Egyptians]

Canônicos

lk.11.27 εγενετο δε εν τω [AND IT CAME TO PASS] λεγειν [AS SPOKE] αυτον [HE] ταυτα [THESE THINGS,] επαρασα [LIFTING UP] τις [CERTAIN] γυνη [A WOMAN “HER”] φωνην [VOICE] εκ [FROM] του [THE] οχλου [CROWD] ειπεν [SAID] αυτω [TO HIM,] μακαρια [BLESSED] η [THE] κοιλια [WOMB] η [THAT] βαστασασα [BORE] σε [THEE,] και [AND “THE”] μαστοι [BREASTS] ους [WHICH] εθηλασας [THOU DIDST SUCK.] (Lc 11,27)


Roberto Pla

Uma mulher ou alma entre muitas bendiz a maternidade bem-aventurada de uma só que fez possível no mundo a presença do Cristo manifesto (v. Maria), e a isto responde Jesus bendizendo à alma bem-aventurada que ao escutar e cumprir a verdade da Palavra [Logos] ou semente do Pai em seu seio semeada, torna possível em si mesma a ressurreição gloriosa do Cristo oculto.

À bem-aventurança manifesta se adita a bem-aventurança oculta, conformando ambas às duas grandes vertentes complementares que convém ser explicado e entendido o Ministério de Jesus Cristo e sua Boa Nova.

Porém ocorre que a entrada na bem-aventurança da Palavra do Pai vai precedida, segundo se descreve, por grandes sinais na alma, sinais de morte primeiro e de vida depois, porque a negação de si mesmo que Jesus predica como condição para a vinda do Filho do homem é a tribulação maior que a criação reservou ao homem.

  • Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me; (Mt 16,24)
  • …porque naqueles dias haverá uma tribulação tal, qual nunca houve desde o princípio da criação, que Deus criou, até agora, nem jamais haverá. (Mc 13,19)

A negação se nomeia morte voluntária da alma (psyche); aniquilação dos conteúdos desse ego mundano que todo homem natural crê ser, para abrir caminho para a iluminação do Cristo oculto, eterno, que no interior do homem espera sua ressurreição. Esta é a transfiguração dos “muitos em um”, tal como Jesus queria a todos reunidos na Jerusalém celestial, a expectativa que busca a alegria do ressuscitado mas que sabe que há de passar antes pela morte do que é mortal. Esse é o sentido do logion joanico:

  • Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. (Jo 12,24)

A grandeza do evangelho transmitido por Jesus para todos é que só a morte do grão solitário abre as portas à vida e a luz da Palavra. Há que saber que um e outro, o homem nascido da carne e do homem de Acima, são os dois que estão no campo (da consciência), de onde um será tomado e o outro deixado, e este último, eu pequeno que será deixado, não abandonará seu mesquinho reino de adversário sem defender a preço de sangue cada um dos conteúdos psíquicos que ao chegar a hora ainda se mantenham sem destruição.

Daí o sentido da terceira bem-aventurança no logion, pois ela exalta o canto ditoso das almas que souberam converter-se em estéreis, vazias, secas, antes de sumir-se na “grande tribulação”. Das outras, das almas que ao apontar a transição do Ego à Palavra, ainda conservam algo de seu propósito de salvar sua vida mortal, já se advertem, nos sinópticos, as dores da solidão de sua paixão:

  • Mas ai das que estiverem grávidas, e das que amamentarem naqueles dias! (Mt 24,12)

Os dias que aí se nomeiam são os “três dias” que em “figura” de solidão passou o profeta Jonas no ventre do cetáceo, e que segundo vaticínio antecedem sempre à manifestação do Filho do homem.

Esta é a Paixão do nascimento messiânico, pela qual Jesus havia de passar — pela “nação”, por todos — e ao explicá-la cheio de amor pelos que mais ou menos tarde poderiam enfrentar-se com sua própria Paixão pessoal, disse a seus discípulos, segundo consta no relato joanico:

Em verdade, em verdade, vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós estareis tristes, porém a vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo gozo de HAVER UM HOMEM NASCIDO AO MUNDO. (Jo 16:20-21)