Evangelho de Tomé – Logion 73

Pla

Jesus disse: A messe é abundante, mas os trabalhadores são pouco numerosos. Rogai, todavia, ao Senhor, para que envie trabalhadores para a messe.

Puech

Suarez

Meyer

Canônicos


Roberto Pla

Segundo a interpretação manifesta tradicional, leia-se messe ou seara, de maneira figurada, como a totalidade das pessoas prontas, maduras animicamente para efetuar sua conversão à fé cristã. Enquanto os trabalhadores são aqueles que pertencentes a esta fé, seguem por sua vontade o exemplo dos discípulos designados por Jesus, os quais foram os primeiros trabalhadores, e cujo cumprimento missioneira deu o Mestre no evangelho algumas instruções precisas.

  • Os sinópticos anotam a missão dos doze discípulos, mas Lucas (10,1-12) informa acerca de outra expedição missionária encomendada aos Setenta (ou Setenta e dois, em outros manuscritos). A interpretação figurativa eclesial discorre que os Doze é a cifra de Israel e os Setenta englobam uma referência à obra missionária nas nações pagãs.

A leitura segundo a vertente oculta toma a messe em sua acepção direta da semeadura, e para interpretá-la nada melhor que a Parábola do Semeador e da qual resulta que o semeador (o Pai), semeia a Palavra (o Filho) em todo homem (a messe), que vem a este mundo.

Sendo a semeadura em todos os homens a Palavra, sem dúvida é o Filho do homem a semente que tem de germinar e dar fruto. Deste modo os trabalhadores são assim denominados porque são chamados a realizar a obra de Deus, sendo eles as almas que em distinta medida começaram a dar fruto de conhecimento [gnosis]. O trabalho que devem realizar estes trabalhadores não é a tarefa missioneira para converter em trabalhadoras outras almas, mas consiste em procurar a própria realização, interior, segundo se explica no quarto evangelho: “Jesus lhes respondeu: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou.” (Jo 6,29)

O trabalho consiste em crer que o Filho do homem foi semeado em nós mesmos, em todos, e que seu reino está aqui, próximo, pois dispôs sua morada em cada homem. Esta é a obra primeira, aquela de onde nasce o fruto da gnosis, esse fruto para cujo desenvolvimento e maturação faz falta que cada um seja um bom trabalhador da messe.

Como se diz a messe é grande — todos os homens que vêm ao mundo — e os trabalhadores, poucos; a desproporção é enorme, pois só são trabalhadores os que creem na semeadura invisível, mesmo sem vê-la, pois com só o pressentimento do hóspede de névoa, se põe a semeadura a frutificar pela fé.

Com isso, a unidade da semente se revela ao final, pois se esclarece que o gérmen, o Filho do homem, é somente um e o mesmo sempre. Isto ocorre aos trabalhadores da messe que perseveram na purgação da prata e na prova do ouro: descobrem sua identidade gloriosa com a messe que nunca faltou.