Evangelho de Tomé – Logion 70

Pla

Jesus disse: Quando engendrais isto em vós mesmos, o que tiverdes os salvará. Se não tiverdes isto em vós mesmos, o que não tiverdes em vós os fará morrer.

Puech

70. Jésus a dit : Quand vous acquerrez [« Acquerrez », « obtiendrez », « posséderez », ou, djpo ayant aussi cet autre sens, « engendrerez », « produirez »] ceci en vous, ce que vous avez vous sauvera. Si vous n’avez pas ceci en vous, ce que vous n’avez pas en vous vous fera mourir.

Suarez

1 Jésus a dit : 2 quand vous engendrez cela en vous, 3 ceci que vous avez vous sauvera; 4 s’il vous arrive de n’avoir pas cela en vous, 5 ceci que vous n’avez pas en vous vous tuera.

Meyer

70 (1) Jesus said, “If you bring forth what is within you, what you have will save you. (2) If you do not have that within you, what you do not have within you will] kill you.” [Cf. Gospel of Thomas [41; 67]

Canônicos

…tendo renascido, não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e permanece. (1Pe 1,23)


Roberto Pla

Com o demonstrativo “isto” o logion nomeia o espírito, ou essência eterna do homem, dotado com vida própria em si mesmo, e para cuja menção emprega o Novo Testamento indistintamente um abundante quadro de denominações, tais como o tesouro, a pérola, a joia, a pedra, e especialmente, o Filho do homem.

“Isto”, é o homem mesmo, o Eu puro, mas para a alma, tão ornamentada com seus interesses próprios, mundanos, temporais, “isto” é um desconhecido inominável, porque seu verdadeiro nome é incognoscível para a alma. O espírito sempre “está aí”, muito próximo, posto que é o substrato irrevocável da alma, “a alma da alma”, que desdobra-se sobre ela sem cansaço possível, o perfume constante da vida. Mas “isto” permanece sumido em seu cativeiro imposto pela alma. Não há “isto” na alma e é sua privação do espírito que dá a vida, ou que a fará morrer.

A outra opção que tem a alma é fazer uso das grandes potências de que está dotada para salvar-se. A primeira potência é a fé, mas nunca cega senão luminosa, clarividente, que com seu olhar que penetra abre as portas à percepção conjunta do que não aparece mas “é”, e do visível que parece ser; pois não há nunca um manancial aberto que não se se surta de um regato escondido que o aporta a água. A outra potência da alma é a katharsis, que torna clara a água para que desponte em sua transparência a luz do espírito. Assim é como se engendra “isto” na alma, a qual, ao ter “isto” nela, é o que a salva.

Todas estas coisas podem ser também ditas na linguagem mais mítica do evangelho. O que o homem engendra com vistas à salvação é o Cristo interior, o Santo oculto, do qual a alma que crê, pode dizer com o salmista ungido: “Tu é meu filho; eu te engendrei hoje” (Sl 2,7). Na verdade, o Filho nasceu de Deus no princípio e se o salmista e alguns outros dizem dele que foi “engendrado hoje”, não é por razão de sua origem, senão por seu nascimento no mundo na alma do que creu.

Mas não há que esquecer que nunca é o Filho o que nasce, senão a alma a qual é reengendrada [Maria], ao tomar nascimento de um “gérmen incorruptível — o que diz Pedro em sua primeira epístola — por meio da Palavra de Deus viva e permanente” (1P 1,23).