Pla
(65) Ele disse: Um homem purificado (krestos), tinha uma vinha; a deu a obreiros para que a trabalhassem e receber deles o fruto. Enviou seu servente para que os obreiros lhe dessem o fruto da vinha. Estes se apoderaram de seu servente, o golpearam e pouco faltou para que o fizessem morrer. O servente se foi e contou a seu amo. Seu amo disse: “Quem sabe não te tenham conhecido. Enviou a outro servente; os obreiros o golpearam também. Então o amo enviou a seu filho. Disse a si mesmo: Talvez terão consideração com meu filho. Quando estes obreiros souberam que era ele herdeiro da vinha, o agarraram e o mataram. Que o que tenha ouvidos ouça!
(66) Jesus disse: Fazei-me conhecer a pedra que os construtores rejeitaram: ela é a pedra angular. [->art7865]
Puech
65. Il a dit : Un homme de bien avait une vigne; il la donna à des ouvriers pour qu’ils la travaillent (et) pour en recevoir d’eux le fruit. Il envoya son serviteur pour que les ouvriers lui donnent le fruit de la vigne. Ceux-ci s’emparèrent de son serviteur, le frappèrent; peu s’en fallut qu’ils ne le fissent mourir. Le serviteur s’en alla (et) le dit à son maître. Son maître dit : Peut-être ne les a-t-il pas connus [II faut sans doute corriger : « peut-être ne l’ont-ils pas connu », « reconnu ».]. Il envoya un autre serviteur; les ouvriers frappèrent aussi celui-là. Alors le maître envoya son fils. Il dit : Peut-être auront-ils des égards pour mon fils. Ces ouvriers, quand ils surent qu’il était l’héritier de la vigne, le saisirent (et) le tuèrent. Que celui qui a des oreilles entende!
66. Jésus a dit : Faites-moi connaître [Ou : « Apprenez-moi », « Enseignez-moi », « Montrez-moi »] la pierre qu’ont rejetée les bâtisseurs : elle est la pierre d’angle.
Suarez
1 Il a dit : 2 un homme serviable avait une vigne. 3 Il la donna à des cultivateurs 4 pour qu’ils la travaillent 5 et pour en recevoir d’eux le fruit. 6 Il envoya son serviteur 7 pour que les cultivateurs lui donnent 8 le fruit de la vigne. 9 Ceux-ci s’emparèrent de son serviteur 10 et le frappèrent; 11 un peu plus, ils l’eussent tué. 12 Lc serviteur s’en alla; 13 il le dit à son maître. 14 Son maître se dit : 15 peut-être ne les a-t-il pas reconnus. 16 Il envoya un autre serviteur; 17 les cultivateurs le frappèrent aussi. 18 Alors le maître envoya son fils ; 19 il se dit : 20 peut-être respecteront-ils mon fils. 21 Comme ces cultivateurs-là savaient 22 que c’était lui l’héritier de la vigne, 23 ils se saisirent de lui et le tuèrent. 24 Que celui qui a des oreilles, entende !
1 Jésus a dit : 2 montrez-moi la pierre 3 que les bâtisseurs ont rejetée : 4 c’est elle la pierre d’angle.
Meyer
65 (1) He said, “A [usurer] [Or “A [creditor].” The text reads khr[st.]s (with one letter to be restored), which may be restored to read either “A [usurer]” (khr[st]s), as here, or “A [good person]” (khr[sto]s).] owned a vineyard and rented it to some farmers, so that they might work it and he might collect its produce from them. (2) He sent his servant so that the farmers might give the servant the produce of the vineyard. (3) They seized, beat, and almost killed his servant, and the servant returned and told his master. (4) His master said, ‘Perhaps he did not know them.’ [Possibly emend to read “Perhaps
did not know .”] (5) He sent another servant, and the farmers beat that one as well. (6) Then the master sent his son and said, ‘Perhaps they will show my son some respect.’ (7) Since the farmers knew that he was the heir to the vineyard, they seized him and killed him. (8) Whoever has ears should hear.” [Cf. Matthew 21:33–41; Mark 12:1–9; Luke 20:9–16]
66 Jesus said, “Show me the stone that the builders rejected: that is the cornerstone.” [Cf. Psalm 118:22; Matthew 21:42; Mark 12:10; Luke 20:17; Acts 4:11; 1 Peter 2:7]
Comentários
Roberto Pla
O termo krestos é uma forma primitiva da palavra Cristo, com a significação de purificado, virtuoso, bom, quer dizer, aquele que percorreu o caminho e recolhe os frutos. Paulo Apóstolo diz: “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo (krestos) seja formado em vós” (Gal 4,19)
Relata o logion 65 a parábola dos Maus Lavradores, e a sua versão há que agregá-la às três que proporcionam os sinópticos com maior extensão; embora os textos das quatro versões sejam muito convergentes, há entre eles alguma diferença, em especial com respeito ao texto aqui no Evangelho de Tomé, que por fortuna serve para completar a exegese.
A explicação manifesta entende que o amo da vinha é Deus. Marcos 12,1 e Lucas 20,9 falam de anthropos simplesmente e facilitam tal exegese; mas Mateus 21,33 agrega “oikodespotes” que evoca a “casa do Pai”, quer dizer um homem que habita na casa do Pai. Por sua parte, o logion 65 se refere a um homem “krestos”, quer dizer um homem que habita no lugar superior de si mesmo, porque o Cristo interior — o krestos — já se manifestou nele, na casa do Pai, a qual o corresponde por sua natureza própria de ser filho de Deus. Trata-se do Espírito Santo, consolador, o paracleto, que “em nós mesmos está”. Por tudo isso, tal homem é, ou pode se dizer que é, um purificado, um homem que no dizer do apóstolo, é um “krestos” graças à fé que já tem em que o Cristo, o Ungido, habita em seu coração.
A vinha, símbolo de Isaías para Israel, é, na parábola, figura do gênero humano, ou melhor, da alma, porquanto o homem se manifesta como “Adão alma vivente” e só depois de dar muito fruto permanece seguro na videira. Quando, com efeito, o sarmento dá muito fruto “não é arrojado fora e se seca”, senão que uma vez limpo, feito, por último, “espírito que dá vida”, transformado em espírito, permanece para sempre na glória do Pai, porque a alma e o espírito feitos um para o outro, por conta de suas bodas sagradas, constituem verdadeiramente o povo Eleito.
A triple alegoria da cerca, o lagar e a torre, os evangelistas Mateus e Marcos a adotam de Isaías. Com a cerca se nomeiam as fronteiras da alma, individual — a vinha — frente a universalidade do Pai e do Filho. Pela ação circunscritora da cerca se converte em breve luz da lâmpada de cada um, de cada consciência, o manto infinito de luz — o Filho — que reveste ao Pai.
O lagar, é o sítio onde se pisa a uva e onde se deposita o novo suco da videira, a água da alma convertida em vinho do espírito; por isto, o lagar encontra-se no fundo da alma, para que não se perca uma gota deste vinho sagrado da sabedoria de Deus.
Quanto à torre, é atalaia para ver e olhar; e também lugar para se aproximar ao noivo espiritual que mora na mesma mansão que a alma, mas em maior altura.
Os vinheiros. Como foi dito: “cada um é vinha e ao mesmo tempo trabalhador de si mesmo” (Clemente de Alexandria, Stromata VII 12, 77, 5). Como se se dissesse que uma e a mesma é a alma e os trabalhos em que deve se aplicar para dar fruto de fé e purificação; mas os vinheiros, o tropel do pensar, sentir e desejar do homem, levam de roldão a vontade da alma e em ausência do espírito, que é a única essência verdadeira que os governa, dispõe seus atos por si mesmos.
Os serventes. Se diz deles que são os enviados pelo amo da casa, pelo krestos na ausência deste, mas na verdade o Espírito, que é ilimitado, não se ausenta jamais de seu próprio país, pois não há outro, senão que é desconhecido pela alma ignorante, a qual só recebe seu vinho de sabedoria em forma de serventes, emissários de Deus. A exegese manifesta identificou os serventes da parábola com os profetas de Israel, mas não estão eles sós na longitude do tempo, senão o fruto de toda Palavra de sabedoria, a qual visita uma e outra vez, com insistência, aos vinheiros da alma. Se são maus os vinheiros, segundo se quer expressar na parábola, recebem mal aos serventes e os golpeiam até que se desembaraçam de sua pertinaz exigência de fruto, tantas vezes como os serventes reiteram sua visita.
“Quem sabe não os conheceu”. Esta afirmação só transmitida por este logion, está em desacordo com a exegese “manifesta”, pois parece que para que a obra se cumpra não corresponde aos “profetas” (Serventes) conhecer aos “judeus” (os vinheiros), senão o contrário. No entanto, desde a exegese “oculta” sim, que são as doutrinas chegadas até os vinheiros sob o título de servidoras de palavras de Deus, as quais hão de ser boas conhecedoras da origem, condição e móvel dos vinhadores. Esta particularidade concorre sempre em toda doutrina nascida certamente da Palavra, pois seu fruto próprio consiste em obter bons frutos, ou seja, em converter em bons vinheiros aos vinheiros maus. Daí que há que pensar que tinha razão o amo da casa ao suspeitar que a não conversão dos vinheiros poderia obedecer não à maldade arraigada a estes, senão à pouco bondade ou conhecimento dos servidores.
O filho. Na exegese manifesta, ou na oculta, o “filho” da parábola é sempre o Filho do homem, ou filho de Deus. Em sua forma “manifesta”, vem o Filho “em carne”, enviado por Deus e esteve algum tempo no mundo até que foi morto na cruz. Durante esse tempo — pouco — habitou no seio de uma pequena comunidade e foi visto pelo povo. Alguns creram no Filho de Deus e se salvaram. Seus ensinamentos, das quais se “serviu”, foram “serventes” para muitos, pois os vinhadores eram por eles conhecidos e ao ser conhecidos eram também transformados. Muitas vinhas encontraram a salvação.
Como Filho oculto no homem, se diz figuradamente na parábola que “vem”, ou que “é enviado”, mas na verdade o Filho tem sua morada em cada homem que vem a este mundo para iluminar-lhe com a luz verdadeira desde o momento que nasce. O Filho não vem, senão que está; não é Enviado, senão que é ele quem envia seu sopro como selo de sua presença; por isso, sua presença, sua parousia real, oculta, interior, permanente, é um fato universal válido em qualquer tempo ou lugar para todos os homens.
A ação do Espírito Santo, do krestos formado na consciência do homem, consiste somente em deixar sinais na vinha para que o Filho seja conhecido pelos vinheiros, assim como ele, o Filho, os conhece eles mesmos. Quando os vinheiros são bons descobrem ao Filho como herdeiro único do Reino e movem a alma para que o busque e conheça posto que ele mora nela. Mas quando a vinha está nas mãos de maus vinheiros, que formam parte da alma, ou pelo menos assim o creem, sabem bem que a presença do Filho significa sua destruição e para eludi-la — para matar o Filho nela — conduzem a alma ao vale das sombras onde o que ali reside convive, ou crê conviver, unicamente com a solidão.
Quanto às conclusões evangélicas agregadas à parábola (o Logion 66): VIDE PEDRA ANGULAR