Evangelho de Tomé – Logion 59

Pla

Jesus disse: Olhe para aquele que está vivo enquanto viveis, por medo que morrais buscando vê-lo e não o logres ver.

Puech

59. Jésus a dit : Regardez vers Celui qui est vivant, tant que vous vivez, de peur que vous ne mouriez et ne cherchiez à le voir sans parvenir à (le) voir.

Suarez

1 Jésus a dit : 2 regardez vers celui qui est vivant 3 tant que vous vivez 4 de peur que vous ne mouriez 5 et que, cherchant à le voir, 6 vous ne soyez à même de voir.

Meyer

59 Jesus said, “Look to the living one as long as you live, or you might die and then try to see the living one, and you will be unable to see.” Cf. Luke 17:22; John 7:33–36; 8:21; 13:33; [Gospel of Thomas 38]

Canônicos


Roberto Pla

Aquele “que está vivo” é o Cristo interior, oculto, que Simão Pedro descobriu, não pelo sangue ou a carne mas pela revelação, como o ser real de Jesus, seu Eu Sou, quando lhe disse: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” (Mt 16,1). O que diz agora o logion é que ao Cristo que está vivo há que buscá-lo durante a vida, pois a nossa vida é só um grão de sua vida; porque uma é a vida, embora somos muitos os que vivemos por ela como promessa para ver ao que está vivo e saber assim que vivemos por ele. Isso mesmo anunciaram aqueles dois anjos que menciona Lucas: “Porque buscais entre os mortos ao que está vivo?” (Lc 24,5). Como se dissessem: buscai-o entre os vivos, posto que ele é a Vida e nos vivos está.

Mas o olhar que olha em direção Daquele nunca deve ser olhar que busca ver o visível, senão contemplação alerta que revela o invisível. Se diz “ver”, mas ver, e em muitos casos ouvir, é o mesmo que crer, e crer é a forma profunda de olhar no invisível, no que não aparece, para que mediante a unção da , tudo aquilo que tem que ser reconhecido porque é a Vida, se revela por fim.

Esse é o mistério da que Jesus pedia: ver ao Filho enquanto presença de seu sopro em nós, e isto porque o espírito vem a nós quando cremos, senão porque sempre esteve em nós embora não o soubéssemos; porque segue agora aí em cada um, embora muitos ainda não saibam. E isto é o que há que entender e em consequência crer, ainda antes do ato de ver, porque crer e ver são uma mesma coisa, mas ver vem depois.

O que vem pela não é a presença do Filho do homem, senão o reconhecimento de sua presença eterna, o gozo da glória do Reino. Assim é como o Reino que “está próximo”, segundo se diz, vem a ser em nós, ou melhor, assim é como nós viemos a ser nele. O Reino é imovível porque é ilimitado e preenche tudo com sua plenitude; por isto não vem a buscar a ninguém, nem se afasta de ninguém jamais. Sempre está aí, bem próximo, no próprio si mesmo de quem o revela. De igual maneira, o Filho de Deus não abandona nunca o trono e a direita do Pai, embora sempre esteja seu sopro em nós segundo sua plenitude.

Quando o que busca crer, diz: “Marana-tha — Vem, Senhor!” (1Cor 16,22) — com sua petição feita desde sua imaginária e as vezes angustiosa solidão, reclama o advento de quem sempre esteve presente em seu Eu Sou e jamais deixará de estar por que é inseparável de seu si mesmo essencial. Quando o que busca crer chega a crer inteiramente, com a firme convicção de que só há um sopro, uma Vida, um Ser, então a presença é descoberta, reconhecida para sempre e adorada cada dia, em todo instante.

Dele pode se dizer, como se disse: “Bem-aventurados os que ainda não vendo creem” (Jo 20, 29).