Pla
Jesus disse: Seus discípulos o disseram: Em que dia o repouso dos que estão mortos se produzirá, e em que dia o mundo novo virá? Ele lhes disse: O que esperais já veio, mas não o conheceis.
Puech
51. Ses disciples lui dirent : En quel jour le repos [« repos » : gr. anapausis.] de ceux qui sont morts se produira-t-il, et en quel jour le monde nouveau viendra-t-il ? Il leur dit : Celui que [« Celui que » : ce démonstratif se rapporte au mot « repos »] vous attendez est venu, mais vous ne le connaissez pas.
Suarez
1 Ses disciples lui dirent : 2 quel jour 3 le repos de ceux qui sont morts arrivera-t-il ? 4 et quel jour 5 le monde nouveau viendra-t-il ? 6 Il leur dit : 7 ce que vous attendez est venu, 8 mais vous, vous ne le connaissez pas.
Meyer
51 (1) His disciples said to him, “When will the rest [Instead of “rest” (anapausis), the editors of the Gospel of Thomas in Synopsis Quattuor Evangeliorum, ed. Aland, 532, emend to read “” (anasis)] for the dead take place, and when will the new world come?” (2) He said to them, “What you look for has come, but you do not know it.” [Cf. Luke 17:20–21; Gospel of Thomas 113:4; John 3:18–19; 5:25; 2 Timothy 2:17–18; Treatise on Resurrection 49]
Canônicos
Não vos admireis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida, e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo. (Jo 5:28-29)
Comentários
Roberto Pla
Os que “estão mortos” são, segundo a linguagem evangélica, os filhos da luz que, embora imortais, ainda não alcançaram esse grau perfeito que pede o evangelho e que consiste em ser uno, fazer-se uno com os conteúdos psíquicos do outro morador da mesma casa, a alma. Àqueles que vivem no estado de não unificados, e isto ocorre à quase totalidade da geração humana, os descreve Jesus como semelhantes a “sepulcros caiados”, isto é, parecem vivos se ao olhá-los por fora, mas por dentro estão mortos (vide Fariseus). Pensa Jesus ao dizer isto, no Filho do homem, o morador do alto, o qual é o único que tem vida própria, mas que permanece cativo, privado de qualquer expressão que não seja a de vivificar em segredo e humildade a seu “coinquilino” mortal.
Os filhos da luz são os justos, as ovelhas perdidas, e a vontade do Pai, expressa ao Filho quando o enviou é, nas palavras de Jesus:
E a vontade do que me enviou é esta: Que eu não perca nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia. (Jo 6:39)
O “repouso dos que estão mortos”, dos filhos da luz, designa o período aberto e indeterminado que nasce com o primeiro sinal ou intuição da alma de que há um filho de luz que habita — morto, ignorado, desconhecido — no piso mais elevado e nada transitado da casa. Este é o princípio da presença, ou parousia do filho da luz na consciência e o anúncio de que será possível a sua vinda ou irrupção plena no último dia deste grande processo religioso, denominado no evangelho: a ressurreição dos mortos.
Há que estar muito atentos com as denominações no NT, pois a morte e a ressurreição se nomeiam em duplo sentido que nem sempre se determina de maneira incontestável (vide nekros e anastasis).
Roberto Pla avança sobre a questão do Filho do homem em sua capacidade de julgar e garantir a purificação (vide krino).
Com efeito, para os que durante sua vida não chegaram a entrar “em si mesmos” (vide filho pródigo), diz Jesus em um breve e compendiado corpo de doutrina que foi muito pouco entendido pela exegese manifesta, que no dia de uma morte o Filho do homem se manifestará em sua consciência. O que haverá de ocorrer a cada um em tal ocasião solene o contam os evangelistas com um relato que despojado de sua elevada linguagem alegórica se descobre como um juízo de ressurreição.
Segundo o explica Lucas em um claro resumo (Lc 17, 31-37), “quem estiver sobre o telhado” — no alto de si mesmo, feito uno com o morador de acima — “que não desça a recolher seus haveres da casa” — que abandone seu apego pelos conteúdos adventícios de sua alma.
“O que está no campo” — fora das limitações de sua alma, a qual considera erroneamente, o si mesmo — “que não se volte para trás — que não vá sobre seus condicionamentos e recordações de filho do mundo.
Não há que se aferrar à vida diminuta que é a vida do mundo, porque nele reside sempre uma dor de morte, senão melhor, soltar a presa, deixar-se morrer em paz e confiança, porque a vida é uma e sempre a mesma, e viver e morrer são duas formas de vida. Por isso se diz: “Quem tentar guardar a vida a perderá e quem a perder a conservará”.
O que há de ocorrer então, no juízo de ressurreição que foi confiado pelo Pai ao Filho e deste ao Filho do homem — a seu espírito, que em nós está — Jesus o explica: “Eu os digo — diz – os dois no mesmo leito”, são os dois moradores da mesma casa, o filho da luz e o filho do mundo. “Um será levado (ao Reino) e o outro será deixado”. “As duas mulheres moendo juntas”, são os conteúdos psíquicos purificados e os conteúdos impuros que convivem juntos na alma. O pilão discriminará sobre elas nesta hora. “Uma será levada e outra deixada”.
Muitos perguntam: “Onde, Senhor?” Onde será deixada? Onde serão deixados os conteúdos impuros com os que o Ser real, o filho da luz convivia, quando este já não aloja-se ali? A resposta, decidia, sucinta, tem ressonâncias de velho refrão de ascendência persa: “Onde está o corpo — junto com o corpo — ali se congregam os abutres”. Posto que o corpo e os conteúdos psicossomáticos a ele apegados são pasto corruptível para a consumação, serão cadáver para os abutres (v. Cadáver e Águias).