Evangelho de Tomé – Logion 49

Pla

Jesus disse: Bem-aventurados os únicos (monachos), os eleitos, porque encontrareis o reino; pois haveis saído dele, de novo voltareis a ele. [Nascer do Alto (Jo 3,1-21)]

Puech

Jésus a dit : Heureux les solitaires [Litt. : « les solitaires et élus » (enmonakhos auô ensotep)] et (les) élus, car vous trouverez le Royaume. Vous êtes, en effet, (issus) de lui (et) de nouveau vous y retournerez.

Suarez

1 Jésus a dit : 2 heureux êtes-vous, les solitaires et les élus, 3 parce que vous trouverez le Royaume; 4 comme vous êtes issus de Lui, 5 vous y retournerez.

Meyer

49 (1) Jesus said, “Blessed are those who are alone [Or “solitary” (Coptic monakhos)] and chosen, for you will find the kingdom. (2) For you have come from it, and you will return there again.” [Cf. Gospel of Thomas 18]


Roberto Pla

O logion denomina bem-aventurados e eleitos aos que conseguiram unificar os dois moradores (fazê-los um) da mesma casa, se manifestam como um todo unificado em uma só consciência de natureza psico-pneumática.

  • para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. (Jo 17:21)

Os eleitos são a pedra, preciosa, posta segundo o plano de Deus, como fundamento da nova cidade sagrada. Dela falou em oráculo o profeta Isaías, pois depois de assinalar que a pedra tinha a “equidade como medida e a justiça como nível”, quer dizer, as proporções exatas do justo, a denominou “não-vacilará”, pois define como assentada com firmeza na fé.

  • Portanto assim diz o Senhor Deus: Eis que ponho em Sião como alicerce uma pedra, uma pedra provada, pedra preciosa de esquina, de firme fundamento; aquele que crer não se apressará. E farei o juízo a linha para medir, e a justiça o prumo; e a saraiva varrerá o refúgio da mentira, e as águas inundarão o esconderijo. (Is 28:16-17)

Foi em uma decisiva ocasião de fé do discípulo Simão (Pedro), e portanto, no nascimento de um eleito, quando Jesus recordou a importância dessa pedra que deve sustentar-se sobre uma fé compacta, não vacilante. O eleito, deve contemplar desde a solidão ou deserto de sua alma com fé absoluta e com doce paciência, o momento no qual o morador eterno e oculto de sua mesma casa manifeste, finalmente, o primeiro sinal de sua presença. Tal presença que permite pressentir “o-que-é, aquilo-que-é”, não é outra coisa que a parousia, ou melhor, o alvorecer da vinda do Filho do homem, dessa vinda que entre áridas brumas alegóricas descrevem os evangelistas.

Isso pode ser explicado assim: Se tu não crês, não podes descobrir; mas se crês que o Filho do homem “é” a essência de ti mesmo, descobrirás, “em tua hora”, o primeiro sinal de sua presença interior. Deves então orar, contemplar longamente no secreto de tua câmara para que aquele primeiro e talvez débil sinal de presença se engrandeça e fortifique em tua consciência até a vinda do Filho do homem. Esse será o Dia do morador de tua casa. Quando tenhas unido a ele até o ponto de que um somente assenhore a consciência; quando ambos, o pneumático e o psíquico, consagrados na verdade, “sejam um”, então serás o Eleito.

Como diz o apóstolo Pedro, o qual quanto à pedra angular foi um testemunho de descobridor.

Diz o logion que o eleito, o unificado, volta ao final ao Reino de onde saiu; mas se pode perguntar, existem realmente essa saída e esse regresso? Quando Isaías olha o eleito desde a terra, desde o olhar de um psíquico, de um “nascido de mulher” que se uniu ao morador eterno, diz: “Minha alma se compraz em meu eleito”. Mas no quadro da transfiguração que teve como cenário um “alto monte”, a voz que se deixa ouvir desde a glória da nuvem não descreve a alma ascendida, senão o Filho que cumpre sua obra: “Este é meu Filho, meu Eleito”.

Na unidade do Eleito, céu e terra se confundem e revelam sua integração real. Em forma de enigma está dito: “Ninguém subiu ao céu, senão que baixou do céu, o Filho do Homem que está no céu” (vide Nascer do Alto (Jo 3,1-21)).