Evangelho de Tomé – Logion 24

EVANGELHO DE TOMÉLogion 23 => LOGION 24 <= Logion 25 Seus discípulos disseram: faz-nos conhecer o lugar onde estais, porque é necessário que o busquemos. Ele lhes disse: que o que tenha ouvidos, ouça! Há luz no interior de um homem de luz, e ilumina o mundo inteiro. Se ele não ilumina, são as trevas. Roberto Pla


EVANGELHO DE JESUS: Olhos Bons; Mt 6,22; Lc 11,34


Hermenêutica
Roberto Pla
A pergunta acerca do lugar onde pode ser encontrado o Filho do homem responde a uma atitude essencial dos discípulos de Jesus, porquanto todo discípulo verdadeiro é um buscador do Messias interior, “oculto”. Em João aparece pergunta paralela à do logion na ocasião do ingresso de André e João como novos discípulos. Estes são “chamados”, segundo recorda o evangelista, ao redor da hora décima: “Rabi, onde vives?”. Próxima à hora undécima, justo aquela em que foram convocados os últimos obreiros da vinha da parábola, os que logo seriam reputados como os primeiros (Trabalhadores da Vinha). (Jo 1,38)

Na resposta, não dá Jesus o nome do lugar onde mora o Filho do homem mas adverte sobre a existência de uma realização ativa e verdadeira para encontrar a morada: “Vinde e vereis”.

No logion, da mesma forma, não dá Jesus a conhecer o lugar “onde está”, mas indica o caminho: “Vinde” a vosso interior e vós mesmos “o vereis”. O Filho do homem é um “homem de luz” (vide Henry Corbin) que habita dentro de vós. A percepção do Filho do homem segue unicamente a uma intuição intransferível e inexpressável, mas com sua luz ilumina o mundo inteiro. Quando ele não ilumina, são trevas, como está dito (Mt 6,23).

Há que consignar que esta explicação vem precedida por essa advertência tão repetida no evangelho: “o que tem ouvidos, ouça”. Como isto se indica que entre os desdobramentos da resposta aparece revelada sutilmente uma verdade profunda, pertencente até então por inteiro ao acervo do “oculto”.

Jesus não cessa de proclamar enquanto Filho do homem que ele é a luz do mundo e são muitos os logia evangélicos que levam esta afirmação. Assim, quando diz: “Eu, a luz, vim ao mundo para que todo o que em mim creia, não siga nas trevas” (Jo 12,46). Sublinha com isto que o Filho do homem não somente tem o privilégio de ser luz, senão além do mais, que sua luz expansiva, irradiante em direção a todos os que creem no Filho do homem de luz interior. Assim o explica Jesus muitas vezes posto que o fundamento de sua Boa Nova consiste em ensinar que todo homem tem, como ele e dada a universalidade do Filho do homem, o privilégio de ser luz, embora poucos o creiam. Por isso diz (Candeia Acesa): “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,14), ou ainda: “Brilhe vossa luz adiante dos homens” (Mt 5,16). O apóstolo, como bom seguidor de Jesus, o segunda nesta doutrina capital: “Todos vós sois filhos da luz e filhos do dia” (1Ts 5,5).

Com respeito a que coisa seja essa luz, aparte ser luz, Filho do homem, sabemos muito pouco e talvez não seja possível saber mais antes de converter-se em luz, que é, em definitivo, o que acredita o cumprimento do sinal pedido a esta “geração”. Paulo ilustra acerca da relação luz-conhecimento: “(Deus) fez brilhar a luz em nossos corações, para irradiar o conhecimento da glória de Deus” (2Co 4,6). Por “corações” deve-se entender aqui o “núcleo”, centro, ou Ser de nós mesmos, um “lugar” indefinível que é o lugar próprio da luz em cada homem e desde onde brilha para todos como conhecimento da sabedoria de Deus, quando o homem a reconhece como luz. Algo similar vem a dizer João em sua primeira epístola por meio de uma expressão nele muito peculiar na qual além de confirmar a obra unificadora da luz enquanto esta é o manto unitário de Deus: “Se caminhamos na luz, como ele mesmo (Deus) está na luz, estamos em comunhão uns com os outros” (1Jo 1,7).

Tudo isso é o que nos dá o sentido pleno do logion: é necessário crer que há luz no interior de cada homem, um homem pneumático de luz que aporta o conhecimento de Deus e da Vida eterna. Ele é, como diz João, a Palavra, “a única luz verdadeira que ilumina a todo homem que vem a este mundo” (Jo 1,9; No princípio era o Verbo). E não é necessário que se nos explique onde mora esta luz, pois ela mesma sabe brilhar em plenitude para manifestar-se quando no homem reina a em seu gérmen interior. Diz Jesus: “Enquanto tendes luz, credes na luz, para que sejais filhos da luz” (Jo 12,36).