LOGION 22
Mt 19.13-14 // Mc 10.13-15 // Lc 18.15-17
Mt 19.17 // Mc 10.18 // Lc 18.19
Mt 16.19 // Mt 18.18 Mt 19.4-6 // Mc 10.6-9
Les parallèles scripturaires témoignent de la rapide dégradation du logion. Passant de l’unité du couple androgyne au dualisme du plan moral, Mt 19.5 a recours à Gn 2.24 : à partir de là, le rédacteur matthéen (19.6-9) a produit sa glose sur la fidélité, l’adultère, la répudiation et la prostitution à l’aide de Dt 24.1 qui traite du divorce. Le rédacteur n’hésite pas à placer dans la bouche de Jésus les paroles de l’A.T.
On trouve cependant dans les canoniques, malgré les altérations, d’autres traces du logion de Ts et en particulier du v. 12. Le terme copte que l’on a traduit par supérieur signifie : céleste, ce qui est en haut ; celui que l’on a traduit par inférieur : terrestre, ce qui est en bas. Mais, tandis que l’exhortation de Jésus invite au retour à l’Un, clef du Royaume, en faisant le supérieur comme l’inférieur, sans signaler la proposition inverse, le rédacteur matthéen (16.19 // 18.18) réintroduit plutôt un certain dualisme entre les choses du ciel et celles de la Terre.
A noter au sujet de Mt 19.17, que l’ensemble des traducteurs catholiques rendent είς εστιν ό άγαθός par : Seul est le Bon ou Un seul est le bon. Les traducteurs protestants de langue anglaise traduisent plus fidèlement par there is none good but one mais se croient généralement obligés d’expliciter ce verset énigmatique en ajoutant that is God. Cependant l’A.S.V. traduit par One there is who is good et l’A.B.U.V, par One is the good : Un est le bien. Quant à la T.O.B., souvent décevante, elle est ici un peu plus heureuse en traduisant (celui qui mis à part) par : Unique est celui qui est bon (cf. log. 107, v. 6).
Os pequeninos em quem Jesus se compraz são aqueles seus seguidores, recém-nascidos do alto, cuja “medida” como lactantes do conhecimento, segundo se explica na parábola do semeador, é a menor entre aquelas que dão fruto para o reino. Estes são paroquianos ainda não muito adiantados no templo, mas já se contam entre os que entoam seus louvores ao filho-do-homem, e Jesus os identifica com os que nomeia o Salmo: “Na boca dos pequeninos, os que ainda mamam, afirmas tu tua fortaleza”.
É então quando segundo o logion perguntam os discípulos se esta condição de ser “duas vezes nascido” serve por si só para franquear a entrada no reino. Com esta interrogação dão motivo a que o mestre os dirija um discurso acerca da unidade no qual explica que é esta, a unidade realizada — ser perfeitamente uno, como o Pai e o Filho são uno — é a única coisa que verdadeiramente faculta entrar no reino.
Nos passos até a unidade, a intuição e nascimento pela fé do homem novo, eterno, é a chave que abre a porta do redil, mas só opera para entrar no reino quando se realiza como verdade viva e profunda o fato superior de que o pastor, as ovelhas, a porta e inclusive o redil são todas uma só e mesma coisa (vide Pastor e Ovelhas). Isto é o que indicou Paulo Apostolo ao adotar a clássica similitude apologética da unidade dos diversos membros do corpo. Esta similitude deve entender-se justamente segundo o apóstolo, que dizer, não como soma harmonizada de muitas e variadas consciências que somente significaria uma unidade muito superficial, senão como universalidade da consciência una e única “em Cristo”, qual raios do mesmo sol. Esta unidade se alcança quando se obtém o conhecimento revelado e feito realidade firme “no homem em Cristo, de que embora possa ter muitas “almas viventes” harmonizadas entre si pelo influxo da razão, só existe, em verdade, “um espírito que dá vida”, um Filho de Anthropos, isento de forma e portanto, ilimitado, absoluto.
De fato, o homem duas vezes nascido, regenerado “desde acima”, engendrou “dois”; mas não se trata com isto da conhecida dualidade reflexiva da psique. É certo que a consciência aparece sempre dual, porquanto os postulados éticos, ou melhor a aspiração de qualquer gênero supõem fricção com as correntes instintivas. Tudo isso, com a disjuntiva teológica dos dois caminhos do bem e do mal, está relacionado, sem dúvida, com a serpente do Éden, agarrada ao calcanhar para impedir a entrada no reino (vide Paul Nothomb); mas o “dois” engendrado pelo nascimento “do alto”, não tem nenhum parecido com o par de opostos. Do que se trata neste caso é da aparição insólita, singular, filtrada através dos interstícios que se abrem nos pensamentos quando estes se movem lentos e pacificamente. Se trata deste pneuma cuja voz pode ser ouvida, como a do vento, quando sopra sem que seja possível saber “donde vem”, nem donde vai”. Isto o explica Jesus, que ao terminar a perícope diz: Assim é todo o que nasce do Espírito”.
Desde a interpretação oculta, esta é a significação prática verdadeira dos primeiros passos de quem engendrou “dois”. Por conta deste “dois” vem a ser o homem como uma “cana agitada pelo vento”, segundo a bela e exata metáfora cunhada por Jesus para descrever a consciência que “esvaziada” de si mesma em ocasiões, é então impulsionada harmoniosamente pelo Espírito, “que te cingirá e te levará onde tu não queres” (Jo 21,18).
Mas o que o logion tenta descrever em uma primeira e fugaz percepção da entrada no reino, não é o começo do fruto que engendrou “dois” e que corresponde à mesma “medida” dos pequeninos que mamam, senão trânsito até a unidade, só acessível ao fruto maduro. Por esta transfiguração culminada cessa a consciência inteiramente para si mesma, porque o pneuma que agita incessantemente a cana já vazia, a invade com sua luz. Assim é como, ao final, se chega a “fazer de dois um”, o que significa “estar na luz” (Logion 11). Esta unidade que consiste em “trocar o dois em um” é a que leva a converter-se em Filho do Homem em plenitude (Logion 106), e a que faculta certamente para entrar no reino.
Os outros termos da unidade que o logion menciona com certo detalhe, dependem do cumprimento da primeira exigência: “quando o dois se tenha feito um”. O sopro não distingue ao agir sobre a cana entre o que está dentro e o que está fora. É muito distinto do que ocorre ao homem psíquico, que estabelece de partida as diferenças ente o Ser e o não-ser, entre o eu e o não-eu, e com isto fica incapacitado para a percepção da unidade do Ser. No entanto, o Filho do homem não conhece tal distinção. Por isso diz: “Tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber, etc … (Mt 25,35).
Tampouco distingue o sopro entre o que está acima e o que está abaixo (v. acima-abaixo). O de abaixo é o primeiro homem, Adam, “alma vivente”, que foi descrito durante séculos como a Esposa mística que consuma a unidade quando alcança suas bodas com o Esposo, o qual em sua universalidade é o “Espírito que dá Vida”, o último Adão. Com tal epitalâmio se diz que o varão se faz com a fêmea uma só coisa, do qual resulta não ser exatamente nem fêmea nem varão senão o Filho do homem ressuscitado para a Vida total.
Os últimos versos do logion não resultam difíceis de entender: o olho, a mão, o pé, e inclusive a imagem ou totalidade do corpo, cessam como entidades separadas uma vez todos tenham bebido em um só Espírito. Com isto, tal como diz o evangelho de João: “estão já limpos graças à Palavra”, e conhecem e exercem bem sua função unitária como membros que são do corpo glorioso e universal de Cristo.
Jesus explica tudo isso na grande parábola da Videira. O Filho do Homem é a videira verdadeira na qual permanece todo sarmento que dá fruto. Agora bem, “assim como o sarmento não pode dar fruto por si mesmo se não permanece na videira”, assim o olho, a mão, o pé e a imagem não devem ser vistos como membros particulares de um só sarmento, senão entendido em plenitude como a totalidade da Videira. O Filho do homem é sempre a Videira verdadeira e por isso, para que essa unidade fosse entendida por muitos, o desígnio de Jesus sobre a terra foi o que revelou o Sumo Sacerdote: “reunir em Um aos dispersos Filhos de Deus” (Jo 11,52).