LOGION 17
1 Co 2.9 // Mt 13.14-17 // Lc 10.23-24
Le logion de Ts témoigne du souci de Jésus de nous conduire à partir du monde visible vers la réalité invisible. Le texte parallèle de Mt cite longuement Isaïe (Is 6.9-10); ce faisant, il infléchit le sens du logion primitif en situant dans le monde spatio-temporel ce qui appartient au monde sans images. Lc, qui écrit pour les pagano-chrétiens, évite la surcharge vétéro-testamentaire tout en cédant par ailleurs comme Mt à la même tentation d’extériorisation.
Paul (1 Co 2.9) a eu connaissance de ce logion qu’il cite. Comment la Bible de Jérusalem (éd. 1973) n’a-t-elle pas rapproché 1 Co 2.9 du log. 17 de Ts ? Elle indique : libre combinaison d’Is 64.3 et de Jr 3.16, ou citation de l’apocryphe Apocalypse d’Élie. En fait aucun témoin de l’Apocalypse d’Élie retrouvé à ce jour ne comporte cette citation.
O logion não usa figura alguma para descrever a invisibilidade da realidade “oculta”. Estes olhos que não veem, assim como o ouvido que não ouve e a mão que não toca, são os órgãos dos sentidos manifestos, os quais, certamente, não estão dotados para receber a glória resplandecente de Deus.
Para que esta glória seja percebida na consciência é preciso que antes se tenha banhado o coração em um batismo de fé consistente em crer no Filho do homem enquanto essência eterna, crença que há que se alcançar em plenitude, até a identidade total da consciência e do Filho do homem.
O princípio deste caminho o explica Jesus: “Não te disse que se crês verás a glória de Deus?” (Jo 11,40). Essa fé é a que “ganharam” os discípulos, e por isso se disse: “Ditosos os olhos que veem o que veis” (Lc 10,23). Os olhos que neles viam foram abertos pela fé no Filho do homem e não eram esses os olhos segundo a carne, senão outros mais profundos, ocultos, feitos da mesma glória invisível que circunda o Filho do homem. Segundo dizem os sinópticos, muitos profetas não alcançaram essa fé que abre os olhos interiores e por isso se diz deles no evangelho: “quiseram ver o que veis e não o viram e ouvir o que ouvis e não ouviram” (Mt 13, 17; Lc 10,24).
Paulo Apóstolo escreve que essa glória, para receber a qual se abrem os olhos interiores dos que creem, foi “preparada por Deus para os que o amam e nisso coincide o apóstolo com os sinópticos quando estes dizem: “Verão o Filho do homem vir em uma nuvem com grande poder e glória”.
Há uma ordem sagrada de preleção no ver e no ouvir dos olhos e ouvidos ocultos, e que vai desde a nuvem até o poder e a glória, e desde estas ao Filho do homem; e não convém descuidar da aparição desta ordem pois descreve três passos consecutivos da realização interior. Primeiro, a nuvem, que, já o sabemos, é a “densa nuvem sobre o monte”, dentro da qual esperou Moisés precursor de muitos, nos preliminares a sua teofania no Sinai (Ex 19,16). Algum tempo antes a nuvem havia sido descrita como a luminária grande, a coluna de nuvem, posta no firmamento por Deus para o domínio do Dia enquanto duraram as jornadas do deserto (Ex 13,21).
O que nos diz agora é que para os que o amam, e que creem porque o amam, foi preparada a nuvem por Deus como glória e poder repletos de luz e não como nuvem. Esta, a nuvem, é somente a capa superficial para que nela se habituem os olhos a seus lampejos, mas que mais tarde, vencida a névoa, se revela como glória – glória resplandecente a quem soube nela se sustentar. Em muitos textos, a glória se descreve idêntica à sabedoria. Assim diz Paulo: “Uma sabedoria de Deus, misteriosa, oculta, (foi) destinada por Deus desde antes dos séculos (quer dizer atemporal, antes que o tempo existisse), para nossa glória” (1Co 2,7). (vide correlações com o tratado místico medieval Nuvem do Desconhecido)
A sabedoria de Deus é a glória de Luz do Filho do Homem, o homem mesmo em sua essência, em espírito; é “radiante e inacessível”, mas segundo está dito: “facilmente a contemplam os que a amam e a encontram os que a buscam” (Sabedoria 6,12). Mas não é o fruto de um esforço “segundo a carne”, senão que a acha por si mesmo quem se identifica com o Filho do homem até o ponto de ser “um só” com ele (Flp 3,8). Com isto se cumpre o que pede Jesus em sua Oração ao Pai: “Os que tu me destes, quero que onde eu esteja estejam também comigo, para que contemplem minha glória” (Jo 17,24).
O que Jesus vem nos propor não é da ordem do que o homem pode pensar, tocar, ver, imaginar. Afirma a transcendência do Ser incriado.
Lembra o Hesicasmo que afirma o caráter inacessível de Deus, e o realismo da participação a seu Ser, donde a distinção de Gregório Palamas entre Essência e Energia…
Não podemos conhecer o coração do Sol e no entanto podemos nos aquecer em seus Raios. Paradoxo da Divinização: nem fusão nem separação.