Evangelho de Tomé – Logion 100

Pla

Mostraram a Jesus uma moeda de ouro e lhe disseram: A gente de César exige de nós os tributos. Ele lhes disse: Dai a César o que é de César; dai a Deus o que é de Deus, e o que é meu dai-mo.

Puech

Suarez

Meyer

Mt 22,15-22

Mc 12,13-17

Lc 20,20-26


Comentários

Roberto Pla

O logion acerca do “imposto devido a César” que proporciona Tomé o traz também os sinópticos e Justino com algumas variantes de importância.

“Naquele tempo, chegando-se alguns o perguntaram se é preciso abonar os tributos a César. E respondeu: Digam-me: de quem tem a imagem, esta moeda? Eles manifestaram: De César. E de novo os respondeu: Paguem pois o de César a César, e o de Deus a Deus.” (Justino, Apol. 17,2)

Aqueles que estudam os textos pelo método de investigar sua história redacional fundam a diferença das versões em que nem Justino, nem Tomé apresentam o episódio como uma controvérsia, tal como aparece nos dois sinópticos, e se inclinam a pensar que o relato em sua forma sinóptica atual se deve a uma variante redacional, obra do redator posterior que eles chamam Marco-intermédio.

A consequência obtida pela investigação redacional é muito aguda e provavelmente acertada, mas como costuma ocorrer com as conclusões ganhas pela via “manifesta”, é insuficiente, pois se satisfaz com contemplar o fruto sem conhecer sua doçura.

Seja quem for o autor da redação sinóptica que conhecemos, o importante a consignar é a mutilação que em seu transcurso parece haver sofrido o “dito” de Jesus, pois os três “credores” mencionados segundo o testemunho de Tomé: César, Deus e o Filho do homem, se reduzem a ser somente dois, ao morrer durante o caminho o final da frase: “e o que é meu, dá-me-lo”.

Tal como resta o texto dos sinópticos, restrito a ser uma discriminação dos deveres do homem a respeito dos poderes do mundo — o César — e os deveres do céu — Deus —, tudo se reduz a que a resposta de Jesus é uma observação de sentido comum: dado que se aceita de fato a ocupação romana ao utilizar a moeda com a imagem do imperador, é necessário se decidir por pagar os impostos que a potência ocupante exige.

Talvez tenha sido a irrelevância espiritual do episódio assim limitado o que moveu ao último redator sinóptico a enriquecê-lo com a adição das alusões ao sentido insidioso com que foi formulada a pergunta, como se somente se pretendesse com esta comprometer a Jesus em um dos dois lados da oposição César-Deus.

No entanto, ao classificar em três direções o que cada homem “deve retribuir”, a resposta de Jesus no logion aparta-se do marco estreito, manifesto, do acontecimentos transitórios, para dar uma lição universal, espiritual, de ordem oculta.

Como é sabido, o denário na época de Jesus era chamado “a moeda do tributo”, pois cada judeu tinha que pagar um denário como imposto pessoal (tributum capitis) à autoridade romana.

Diante da vista da moeda do tributo, Jesus recorda os três tributos que a cada homem lhe corresponde pagar nesta vida:

O primeiro tributo é o da morte, o do fim (telos) da vida no mundo. É este um tributo que vem endividado pela curta duração “natural” do viver do corpo. Na moeda do tributo esta pagamento de alfândega, de trânsito, vem significado pela efígie do César nela gravada.

O segundo tributo é o da negação de si mesmo, a consumação da alma, e para pagá-lo há que se descartar todo temor (phobos); neste tributo se retribui a YHWH-Deus que no Paraíso formou a alma e insuflou nela o alento de vida.

Por último, o terceiro tributo é o da honra ao divino (times) devido ao Filho do homem; Ele é o que há de ser glorificado, pois sua glorificação é a honra que lhe corresponde. Na moeda do tributo ele é a moeda mesma, a substância, o Ser real, que se manifesta como o ouro que dá valor ao denário.

Em sua epístola aos romanos, recordaria logo o Apóstolo o episódio da moeda do tributo quando disse:

Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra. (Rom 13,7)

Leloup

Gillabert

Puech