Pla
Jesus disse: trouxe um fogo sobre o mundo e hei de preservá-lo até que o incendeie.
JESUS HA DICHO: HE TRAIDO UN FUEGO SOBRE EL MUNDO Y HE DE PRESERVARLO HASTA QUE LO INCENDIE.
Puech
Suarez
Jésus a dit : j’ai jeté un feu sur le monde et voici que je le préserve jusqu’à ce qu’il embrase.
Meyer
Jesus said, “I have thrown fire upon the world, and look, I am watching it until it blazes.”3
Lc 12,49-50
Comentários
Suarez
Si la Parole n’a pas encore embrasé le monde, ce n’est pas que son pouvoir soit en cause. Seulement ayant été déformée et utilisée à des fins trop humaines, il a fallu attendre que l’humanité soit au bout de l’impasse pour qu’elle puisse devenir agissante.
Roberto Pla
O fogo de que Jesus fala é o fogo do conhecimento de Deus. Que Deus é conhecido enquanto fogo, já se disse: “Vim lançar fogo à terra; e que mais quero, se já está aceso?” (Is 66,15); quando no começo da Bíblia afirma YHWH aliança com Abraão, na primeira teofania descrita pelo Gênesis, já se registra sua presença como uma tocha de fogo que surge de forno fumegante em meio de dessas trevas (Gen 15:17).
Por sua condição de fogo que traz o conhecimento de Deus, este fogo deve ser identificado em paralelo com o Espírito da Verdade, o Consolador de quem diz Jesus que mora em nós e em nós está. Se entende por isto que tal fogo ou Espírito está em nós — em cada homem que nasce e desde que nasce — mas que seu fogo do conhecimento só pode ser recebido na consciência quando esta é, ou se faz, apta para conhecê-lo. Então o Espírito, se põe sobre o homem como uma língua de fogo cuja ação significa como um nascimento do Alto em operação em sequência ao batismo de fogo. Também pode ser descrito como uma tocha que parece nascer da densidade das trevas, tal como o explica o Gênesis, ou bem como um rio de fogo, ao dizer do profeta Daniel quando explica algum dado de sua teofania.
Este fogo está presente em todos os relatos de teofania, pois descreve figuradamente o primeiro conhecimento de Deus. Porém este conhecimento não é ainda o que vem como identificação com Deus, e que só se explica como uma nuvem da qual se ouve a voz. Os apóstolos presenciaram esta nuvem quando da chamada transfiguração de Jesus e se diz dela que os cobriu com sua sombra, o que quer dizer que se identificaram com ela.
Uma vez entendida a classe de fogo que Jesus veio trazer ao mundo, não tem nada de surpreendente seu projeto de preservar este (o mundo) até que seja totalmente incendiado. No texto sinóptico incluído por Lucas, expressa seu desejo de que tal incêndio se tivesse produzido já, e completa a ideia com uma perícope que seguramente só pode ser entendida desde a interpretação “oculta”: Com um batismo tenho que ser batizado e quão constrangido estou até que se cumpra! (v. syneko)
Se se compreende bem que Cristo é o Filho do Homem que reside “oculto” (não manifestado) em todo homem, não resulta difícil aceitar esta perícope. O que Jesus quer é um batismo universal no que ele, necessariamente, é o único batizado: o fogo, vem do Pai, de sua sabedoria, e ele como Filho único a recebe e a transmite, enquanto conhecimento de tal sabedoria, à consciência de cada homem que se faz digno deste batismo. Assim é como ao receber esta chama do conhecimento de Deus em forma de línguas de fogo, cada homem se batiza em Cristo, pois se trata de atos solenes nos que o Cristo é, sempre em definitivo, o oficiante e a oblação.
Por isso, até que tal batizado se cumpra (estamos nele), o qual significará o cumprimento do único sinal reservado para esta geração, não estará manifestado plenamente o Jesus “oculto”, quer dizer, constrangido, limitado, como o grão que, pela ignorância dos homens, ainda não foi despojado dessa palha que resiste ser aventada e queimada no fogo para sempre.
« j’ai jeté » : lire, peut-être, « je suis venu jeter » (cf. log. 16). ↩
« il » : entendre « le monde ». ↩
Cf. Luke 12:49 (Q?); Pistis Sophia 141. ↩