Evangelho de Felipe – Logos [HLIR]

De fato, o status e a função do Logos é um dos aspectos mais interessantes e intrigantes do Ev. Fel., embora um aspecto que tenha atraído surpreendentemente pouca atenção acadêmica. Encontramos no Ev. Fel. a primeira referência direta ao Logos em conexão com a Eucaristia, onde nos é dito que ele deve ser identificado com a “carne” de Jesus. Mais tarde, encontramos essa referência em uma interpretação da história da transfiguração, onde o Ev. Fel. se refere ao “seu Logos” e diz o seguinte sobre Jesus,

foi como se pudessem vê-lo que ele apareceu. [Ele apareceu a eles de todas as maneiras. Ele [apareceu] para [os] grandes como grande. Ele [apareceu] aos pequenos como pequenos. Ele [apareceu] aos anjos como anjo e aos homens como homem. Portanto, seu Logos se escondeu de todos. Alguns o viram pensando que estavam vendo a si mesmos, mas quando ele apareceu aos seus discípulos em glória na montanha, ele não era pequeno, ele se tornou grande, mas ele fez os discípulos grandes para que eles pudessem vê-lo sendo grande. (Ev. Fel. 57.30-58.10)

Embora essa passagem possa se basear e remeter o leitor a qualquer um dos relatos sinóticos da transfiguração, parece ser o relato de Lucas, que é o único que menciona a “glória” (δόξα) de Jesus, que é a principal referência aqui, pois Lucas nos diz especificamente que os discípulos Pedro, João e Tiago viram a “glória” de Cristo.

No relato do Ev. Fel. sobre o que de fato aconteceu na transfiguração, o Logos é apresentado como uma parte da constituição de Cristo que normalmente era mantida oculta. É-nos dito que estava oculto enquanto as pessoas, incluindo seus discípulos, não conseguiam ver a verdadeira aparência de Jesus, o que implica que o Logos era parte integrante de seu verdadeiro ser e aparência. No entanto, é importante ressaltar que o Logos foi mantido oculto de acordo com o princípio de que semelhante vê semelhante e, portanto, o Logos ficou oculto até que os discípulos se tornassem semelhantes a Jesus. Normalmente, porém, as pessoas não viam Jesus como ele realmente era, mas de acordo com seu próprio status e habilidades. É significativo que, no que o Ev. Fel. apresente como a única exceção a essa regra, ou seja, na transfiguração, nosso tratado enfatiza que Jesus não tornou a si mesmo (e, portanto, “seu Logos”) visível aos discípulos “em glória” tornando-se pequeno, mas sim tornando-os grandes. De acordo com o Ev. Fel., então, a aparição de Jesus aos discípulos foi como um reflexo deles mesmos e, portanto, somente ao se tornarem verdadeiramente como poderiam ver Jesus como realmente era. Isso também lembra I João 3:2, que, como o Ev. Fel., faz a conexão causal entre tornar-se semelhante a Cristo e vê-lo como ele é. “Quando ele aparecer, nós nos tornaremos semelhantes a ele: “quando ele aparecer, nós nos tornaremos como ele, pois o veremos como ele é”. Outra passagem que pode ser lembrada nesse contexto é Fp 3:21, onde Jesus apareceu para as pessoas da forma como elas eram capazes de compreendê-lo, o que, nesse contexto, significa que elas só eram capazes de vê-lo em seu próprio nível e, portanto, a única maneira de obter uma visão do verdadeiro Jesus era ser igualado a ele em grandeza pelo próprio Jesus. Então, e somente então, o “seu Logos” seria visível.