Evangelho de Felipe – linguagem [JYLP]

Enquanto usarmos palavras, teremos males, de acordo com o Evangelho de Felipe:

As palavras que damos às realidades terrenas geram ilusão, desviam o coração do Real para o irreal. Aquele que ouve a palavra Deus não percebe o Real, mas uma ilusão ou uma imagem do Real.

O mesmo acontece com as palavras Pai, Filho, Espírito Santo, Vida, Luz, Ressurreição, Igreja e todas as outras. Essas palavras não falam da Realidade; entenderemos isso no dia em que experimentarmos o Real.

Todas as palavras que ouvimos neste mundo apenas nos enganam.
Se estivessem no Espaço do Templo [Éon], elas se manteriam em silêncio
e não mais se refeririam a coisas mundanas,
no Espaço do Templo [Éon] elas se calam. [Evangelho de Felipe, 11]

Esse silêncio é o da teologia apofática e contemplativa que continuou a se desenvolver nos séculos seguintes:

De Deus, é impossível dizer o que ele é em si mesmo, e é mais apropriado falar de Deus negando tudo. De fato, ele não é nada do que existe. Isso não quer dizer que ele não possa ser em algum sentido, mas que ele está acima de tudo o que é, acima do próprio ser. [Cf. São João Damasceno, An Exposition of the Orthodox Faith, I, 4.]

Em sua Apologia, II, São Justino (100-165 d.C.) diz que os termos Pai, Deus, Criador e Senhor não eram nomes divinos, mas nomes para as bênçãos e obras do divino.

Embora seja bom ficar em silêncio, ainda é necessário falar. Aqui, também, o Evangelho de Filipe evita a armadilha do dualismo “ou/ou”:

A Verdade faz uso de palavras no mundo
porque, sem essas palavras, permaneceria totalmente desconhecida.
A Verdade é uma e muitas,
para nos ensinar o inumerável Um do Amor. [Evangelho de Felipe, 12]

Estamos no mundo, e esse mundo é um mundo de palavras e mal-entendidos. No entanto, devemos tentar nos fazer ouvir, se não formos compreendidos. É isso que o Evangelho de Felipe nos convida a fazer ao tratar de assuntos que, sem dúvida, eram fonte de muitos mal-entendidos em sua época, como ainda são hoje.