É preciso superar as aparências para chegar à verdadeira realidade:
Agora, nós já temos o que nos foi revelado da criação. E dizemos que as coisas poderosas é que são respeitáveis e que as coisas ocultas são fracas e desprezíveis. Mas é assim que ocorre com as (realidades) reveladas da Verdade: elas são fracas e desprezíveis, mas as que estão ocultas são fortes e consideráveis. Com efeito, os mistérios da Verdade se manifestam em tipos e imagens. Ora, a câmara nupcial é oculta. É o Santo dos Santos. Efetivamente, o véu dissimulava no princípio de que modo Deus governava a criatura. Mas, quando o véu se desvelar e o interior se manifestar, se abandonará essa casa deserta e, mais ainda, ela será (destruída). Mas a divindade inteira não fugirá desses lugares no Santo dos Santos, pois ela não poderá se unir à (luz sem) mistura nem ao pleroma sem deficiência, (mas estará) sob as asas da cruz (e todos os seus) braços. Esse arco será (para ela uma) salvação quando o dilúvio das águas os reter. Se alguns estiverem na tribo do sacerdócio, eles poderão entrar no interior do véu com o sumo sacerdote. É por isso que o véu não se desvelou apenas no alto, já que ele só se abrirá àqueles do alto, nem se desvelou apenas em baixo, já que ele só se manifestará àqueles de baixo. Ele se desvelou de alto a baixo. O alto abriu-se para nós, que estamos embaixo, a fim de que penetrássemos no segredo da Verdade. Eis o que é verdadeiramente considerável e poderoso. Mas nós penetraremos nele graças a tipos desprezíveis e coisas fracas. Com efeito, eles são desprezíveis diante da glória perfeita. Há uma glória que ultrapassa a glória, há uma força que ultrapassa a força. É por isso que a perfeição abriu-se para nós, com o segredo da Verdade, o Santo dos Santos se manifestou e a câmara nupcial nos convidou a penetrar em seu interior (p. 84,14-85,21).