Evangelho da Verdade – síntese [FGBG]

Quisemos sintetizar o Evangelho da Verdade, porque é um documento pouco conhecido e direto, que confirma sem paliação o autêntico pensamento gnóstico: O Pai como Não-Ser, incognoscível ao próprio Pleroma em sua essência, as sucessivas emanações — embora sem a necessidade do preciosismo sistemático de Ptolomeu em sua construção —, a queda pleromática e sua explicação simbólica pela paixão, o espiritual oculto pelo erro, que silencia a atividade demiúrgica e torna relevante a atitude dualista, o envio do Salvador pleromático idêntico ao Pai e ao pneuma perdido e a salvação pelo conhecimento — pelo re-conhecimento — do pneuma e sua ascensão. As constantes do mito gnóstico foram repetidas e até mesmo monotonamente. Mas nesse comentário gnóstico não se utilizam os emblemas mitológicos habituais, os seres pleromáticos, o sistema cosmológico, os traços cosmogônicos são deixados em segundo plano e o interesse se concentra no aspecto soteriológico, sem utilizar os expedientes de descida e retorno por meio de fórmulas secretas; Pelo contrário, a figura do Salvador ocupa um lugar de privilégio e esse Salvador é identificado com Jesus Cristo, segundo a interpretação gnóstica que o despoja de todo valor histórico e temporal e o envolve com o mais alto sentido gnóstico da tipologia salvífica. Entretanto, essa restrição de imagens mitológicas não implica uma força mítica menor. O conjunto de abstrações com o qual o autor da homilia lida não tem menos significado simbólico do que o das imagens. Cada uma dessas figuras míticas aponta para um significado que as transcende e não faz mais do que refletir o profundo sentido gnóstico da afirmação do Eu e da rejeição do não-Eu, da “extraneidade” do Absoluto diante de formas e conceitos que o constroem ilegitimamente. Por outro lado, a necessidade de gnose salvífica, com o que isso implica de uma profunda percepção metafísica, está presente em todo o documento.