BIBLIOTECA DE NAG HAMMADI — EVANGELHO DA VERDADE,
Códice I: EVANGELHO DA VERDADE (tradução em inglês)
Resumo adaptado da obra de James Robinson [JRNH]
Texto gnóstico cristão com claras afinidades com a escola de Valentino, oferecendo uma sutil mas comovente reflexão sobre a pessoa e a obra de Jesus. O tratado não tem título no manuscrito e é conhecido por seu incipit. Uma obra da escola de Valentino com este título é citada no Adversus Haereses de Irineu de Lião, mas onde só se afirma ser significativamente diferente dos Evangelhos canônicos. Sua data de composição parece ser entre 140 e 180 dC. Alguns estudiosos afirmam ser obra do próprio Valentino. Foi composto em grego em um estilo retórico elaborado.
Não se trata de um evangelho do tipo encontrado no NT, pois não oferece narração de atos, ensinamentos, paixão e ressurreição de Jesus. Mas guarda o sentido original de evangelho, enquanto “boa nova”, embora seja mais uma homilia. Provavelmente trata-se de um documento projetado para introduzir perspectivas soteriológicas da escola de Valentino, aos noviços desta escola.
A obra pode ser dividida em três blocos de exposição, contendo três temáticas distintas, separados por duas unidades também distintas, uma “Litania sobre o Verbo” e um apelo. Depois de uma introdução, o primeiro bloco começa com uma descrição da geração de Erro, que surge do Pai, mas que o Pai não é responsável, e pelo qual ele não é diminuído. Um relato mitológico, como a queda de Sophia, encontrado em vários textos gnósticos, subjaz esta descrição do Erro. Em seguida se apresenta Jesus e sua obra como revelador e mestre. Ao final do primeiro bloco trata-se da morte de Jesus e sua interpretação como um ato de revelação capaz de superar os poderes do Erro, pelo desvelamento da essência do Pai e da origem e destino do si mesmo humano nEle, no Pai.
O segundo bloco de exposição descreve os efeitos da revelação do “evangelho da verdade”. União com o Pai, existência humana autêntica pelo despertar, uma condição de alegria e deleite em contraste com o pesadelo da existência na ignorância, e por fim o retorno supremo ao Pai.
O terceiro bloco focaliza o processo de reintegração à fonte primordial. Da atração inicial para o retorno, imaginada como um perfume, que é de fato o espírito de incorruptibilidade que produz o perdão, passa-se ao agente do retorno que é o Filho, em nome do Pai. A identificação do Filho e do Nome é uma das reflexões mais sutis do texto. Por último, em termos festivos descreve-se a meta suprema, o processo de retorno, e repouso no Pai. Estes que retornam se reconhecem como filhos que o Pai ama.