Evágrio — Tratado da Prática
PRAXIS ou PRAKTIKÉ ou PRÁTICA
Tradução de Antonio Carneiro acompanhada de notas do tradutor.
61 O intelecto não poderá avançar, nem acompanhar esta bela emigração e chegar na região dos incorpóreos, se não tiver corrigido o interior. Pois a agitação doméstica o faz habitualmente voltar para (o ponto) o qual já tinha saído.
62 As virtudes tanto quanto os vícios tornam cego o intelecto: aquelas, porque não veem os vícios, estas por sua vez, porque não veem as virtudes.
63 Quando o intelecto começa a rezar sem distração, então todo combate se entrega, dia e noite, à volta da parte irascível da alma.
64 É uma prova de impassibilidade, que o intelecto tenha começado a ver sua própria luz, que permaneça calmo diante das visões do sono, e que olhe os objetos com serenidade.
65 O intelecto tem toda sua força quando não imagina nenhuma das coisas desse mundo no momento da oração.
66 O intelecto que, com ajuda de Deus, levou bem a prática e que se aproximou da ciência não sente quase mais nada, ou até mesmo absolutamente nada, a parte irracional da alma, pois a ciência o encanta nas alturas e o separa das coisas sensíveis.
67 A alma que possui a impassibilidade, não é aquela que não prova nenhuma paixão diante dos objetos, mas, aquela que permanece imperturbável também diante das lembranças.
68 O perfeito não pratica abstinência nem o impassível a perseverança, já que a perseverança é o feito daquele que está sujeito às paixões, e a abstinência o feito daquele que está atormentado.
69 É uma grande coisa orar sem distração, mas mas é uma maior salmodiar também sem distração.
70 Aquele que estabeleceu em si mesmo as virtudes e que está inteiramente misturado à elas não se lembra mais da lei, dos mandamentos ou do castigo, mas diz e faz tudo o que lhe dita o excelente estado .