EVÁGRIO — PRAKTIKOS — TRATADO DA PRÁTICA
VIDE: A NOÇÃO DE «PRAKTIKE»
Segundo Jean-Yves Leloup, «a praktike é o método espiritual que visa purificar a parte apaixonada da alma». É o lento trabalho de purificação do coração consciente e inconsciente para que este encontre sua beleza primeira, sua saúde ou sua salvação (mesma palavra grega: soteria).
Pode-se dizer assim que a «PRAKTIKE» de Evágrio é um tratado terapêutico do século IV cuja finalidade é permitir ao homem conhecer sua verdadeira natureza «à imagem e à semelhança de Deus» (v. Imagem Semelhança), liberado de todas as suas malformações ou deformações patológicas. É neste sentido que se poderia traduzir a palavra «apatheia», que empregam Evágrio e a tradição monástica do deserto, não por «impassibilidade», mas por «estado não patológico» do ser humano, se é verdade que a conversão, «é retornar disto que é contrário à natureza para o que lhe é próprio» (João Damasceno).
A PRAKTIKE é uma forma de psicanálise no sentido próprio do termo: análise dos movimentos da alma e do corpo, das pulsões, das paixões, dos pensamentos que agitam o ser humano e que estão na base de comportamentos mais ou menos aberrantes. Assim, o elemento essencial da PRAKTIKE no Deserto vai consistir em uma análise e uma luta contra o que Evágrio chama os logismoi, que se deve traduzir literalmente por «pensamentos».
Na tradição cristã, em seguida, se falará dos demônios ou dos «diabolos» (literalmente: o que divide (dia) o homem nele mesmo, o lacera; é igualmente a etimologia da palavra hebraica «shatan», «o obstáculo»: o que se opõe à unidade do homem, à união com os outros, à união com Deus). Trata-se sempre de discernir no homem o que faz obstáculo à realização de seu ser verdadeiro, o que impede a expansão da vida do Espírito (Pneuma) em seu ser, seu pensamento e seu agir.
Evágrio distingue oito «logismoi» na raiz de nossos comportamentos, que são oito sintomas de uma doença do espírito ou doença do ser que fazem que o homem seja «viciado», aparte dele mesmo, em estado de «hamartia».
Tratado da Prática — trad. Antonio Carneiro