Tanquerey — COMPÊNDIO DE TEOLOGIA ASCÉTICA E MÍSTICA
Este prazer é, conseguintemente, permitido às pessoas casadas, contanto que usem dele para o nobilíssimo fim para que foi instituído o matrimônio, a transmissão da vida; fora do matrimônio, é rigorosamente interdito esse prazer. A despeito dessa proibição, há infelizmente em nós, a partir sobretudo dos anos da puberdade ou da adolescência, uma tendência mais ou menos violenta a experimentar esse prazer, até mesmo fora do matrimônio legítimo. É esta tendência desordenada que se chama luxúria, e é condenada em dois preceitos do Decálogo: 6. Guardar castidade nas palavras e nas obras; 9. Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos.
Não são, pois, somente proibidos os atos externos, senão também os atos internos consentidos, imaginações, pensamentos, desejos. E com toda a razão: porque, se alguém se demora, de propósito deliberado, em imagens, em pensamentos desonestos, ou em maus desejos, logo os sentidos se perturbam, produzindo-se movimentos orgânicos, que muitas vezes serão prelúdio de atos contrários à pureza. Quem quiser, pois, evitar esses atos, tem de combater pensamentos e imaginações perigosas.
B) Há casos, porém, em que esse prazer, sem ser diretamente procurado, se produz em conseqüência de certas ações, aliás boas, ou ao menos indiferentes. Se não se consente nesse prazer, e, por outro lado, há razão suficiente para praticar a ação que o ocasiona, não há culpa, e, por conseguinte, não há que recear. Se, porém, os atos que determinam essas sensações, não são nem necessários nem seriamente úteis, tais como as leituras perigosas, as representações teatrais, as conversas levianas, as danças lascivas, é evidente que entregar-se a essas coisas é pecado de imprudência mais ou menos grave, segundo a gravidade da desordem assim produzida e do perigo que há de consentimento.
d) Os tristes efeitos desta abdicação da vontade bem depressa se fazem sentir: a inteligência embota-se e enfraquece, porque a vida desceu da cabeça para os sentidos: desapareceu o gosto dos estudos sérios; a imaginação já não pode representar senão baixezas; o coração murcha pouco a pouco, seca, endurece, não tem outros encantos senão os prazeres grosseiros, e) Muitas vezes até o próprio corpo é profundamente atingido: o sistema nervoso, sobreexcitado por estes abusos, irrita-se, enfraquece e «torna-se impróprio para a sua missão de regulação e defesa»1; os diversos órgãos já não funcionam senão imperfeitamente; a nutrição faz-se mal, as forças enfraquecem, não anda longe a tuberculose.
É evidente que uma alma assim desequilibrada, a animar um corpo débil, não só não pode pensar mais em perfeição, senão que de dia para dia se afasta dela para mais longe. Muito feliz será ela; se puder entrar em si a tempo de assegurar ao menos a salvação.
Importa, pois, indicar alguns remédios para este vício grosseiro.