Tanquerey — COMPÊNDIO DE TEOLOGIA ASCÉTICA E DOGMÁTICA
Aqui ocupamo-nos sobretudo da inveja, enquanto vício capital, e exporemos: 1. a sua natureza; 2. a sua malícia: 3. os seus remédios.
Nasce, pois, do orgulho este vício, que não pode tolerar superiores nem rivais. Quando um está convencido da própria superioridade, entristece-se, ao ver que outros são tão bem ou melhor dotados que ele, ou que ao menos alcançam maiores triunfos. Objeto da inveja são sobretudo as qualidades brilhantes; contudo em homens sérios também o podem ser as qualidades sólidas e até a virtude.
Manifesta-se este defeito pela mágoa que um sente, ao ouvir louvar os outros; e então procura-se atenuar esses elogios, criticando os que são louvados.
C) Há diferença entre a inveja e a emulação: esta é um sentimento louvável que nos leva a imitar, igualar, e, se possível for, a sobrepujar as qualidades dos outros, mas por meios leais.
A) Em si, é a inveja pecado mortal, de sua natureza, porque é diretamente oposto à virtude da caridade, que exige nos regozijemos do bem dos outros. Quanto mais importante é o bem que se inveja, tanto mais grave é o pecado; e assim, diz S. Tomás ter inveja dos bens espirituais do próximo, entristecer-se dos seus progressos ou dos seus triunfos apostólicos é gravíssimo pecado. É isto verdade, quando estes movimentos de inveja são plenamente consentidos; muitas vezes, porém, não passam de impressões, ou sentimentos irrefletidos, ou ao menos pouco refletidos e voluntários: neste último caso, não passa de venial a falta.
a) Excita sentimentos de ódio: corre-se risco de odiar aqueles de que se tem inveja ou ciúme, e, por consequência, de falar mal deles, de os desacreditar, caluniar, ou de lhes desejar mal.
b) Tende a semear divisões, não somente entre estranhos, mas até no seio das famílias (recorde-se a história de José), ou entre famílias aliadas; e estas divisões podem ir muito longe e criar inimizades e escândalos. É ela que por vezes divide os católicos duma região, com grandíssimo detrimento do bem da Igreja.
c) Impele à conquista imoderada das riquezas e das honras: para sobrepujar aqueles a quem tem inveja, entrega-se o invejoso a excessos de trabalho, a manobras mais ou menos leais, em que se encontra comprometida a honradez.
d) Perturba a alma do invejoso: não há paz nem sossego, enquanto se não consegue eclipsar, dominar os próprios rivais; e, como é muito raro que se chegue a alcançá-los, vive-se em perpétuas angústias.