DANIELOU ANACHORESIS

Jean Daniélou — PLATONISMO E TEOLOGIA MÍSTICA

O Homem Interior

Além do caráter sacramental, outro aspecto aparece desde o início da vida espiritual e que o acompanhará até o final: a Interioridade. Ao lado da separação do mal e do erro, operada pelo Batismo, encontramos a separação do mundo. Uma mesma palavra para as duas: anachoresis. Duas cenas paralelas da Vida de Moisés a expressam: a Discalceatio figura a separação mal e a fuga para o deserto de Madian simboliza a segunda. A primeira marca a dependência objetiva da vida espiritual a respeito do Cristo e do Corpo Místico, a segunda manifesta a interioridade. As formas superiores da vida espiritual serão ao mesmo tempo «instase» e «êxtase», «recolhimento» e «saída de si».

Esta ideia apresenta dois aspectos: um, mais exterior, que é a separação do mundo, a «anachoresis» propriamente dita, que nada mais é que a condição de uma realidade mais profunda que é o retorno da alma a ela mesma. Moisés é o grande exemplo na Vida de Moisés.

Este retiro longe do mundo é por vezes apresentado como uma «fuga» phyge. Depois de descrever a reconciliação batismal, o Comentário da Oração dominical afirma: «não há outro caminho que leve ao céu, senão a fuga e o abandono dos males terrestres, e o meio de fugir destes males, não parece haver outro que a semelhança com Deus (homoiosis pros ton theon)» (XLIV). Interessante notar uma vez mais a junção do tema do batismo e da anachoresis. Cabe ainda lembrar o caráter platônico e sobretudo plotiniano de todas as passagens que tratam do tema (vide Enéada I,2,1 e Enéada I,6,6).