Jean Borella — Esoterismo Guenoniano e Mistério cristão
Abordando a refutação indireta das teses de Guénon relativas ao cristianismo, vamos tentar proceder por um deslocamento do que está em questão, o que significa restituir o cristianismo em seu lugar próprio e a cessar de submeter a exigências estranhas a sua natureza.
Situar o cristianismo em seu próprio lugar, é considerá-lo do ponto de vista de seu “sítio hermenêutico” verdadeiro: “toda revelação comporta uma certa compreensão dela mesma, que é o modo sob o qual ela se apresenta aos homens(...). A este modo hermenêutico, devemos estar atentos”.
Sem dúvida entre os elementos formais do qual se reveste o revelatum, muitos são suscetíveis de uma interpretação universal porque são tomados de empréstimo à tradição universal da humanidade, como é o caso dos elementos simbólicos, onde a obra de Guénon é incontestavelmente insubstituível.
Para conhecer o sítio hermenêutico do cristianismo é conveniente tomar em consideração a figura geral de esboça o conjunto de seus elementos formais. Esta figura fornecerá a visão global, a “ideia” inspirante a partir da qual a religião poderá ser apreciada e compreendida.
Mas uma religião comporta não apenas elementos formais esboçando sua fisionomia espiritual de maneira implícita e conotativa, mas também palavras explícitas, pelas quais se exprime de maneira denotativa a consciência que ela tem dela mesma, e que fornecem as chaves de sua própria compreensão.
No entanto para entrar nesta inteligência, não é suficiente declarar alguns termos que se encontram no Novo Testamento ou na literatura paleo-cristã, deve-se encontrar os sentidos que tinham quando a Igreja (os Apóstolos e seus sucessores) os escolheram entre tantos outros, e qual era então sua intenção.
A exegese desde início do século XX muito avançou embora seja criticável quando recorta os textos sagrados em segmentos de origem disparate, ou a negar sua autenticidade tradiconal, ponde até em dúvida palavras do Cristo. A exegese inaugurada por Orígenes e pelos agostinianos poderia servir de exemplo do que significa escrutar a formulação e dela adquirir uma inteligência mais prenhe de seu sentido, respeitando o texto.
Interessante notar que Guénon que escreveu uma introdução ao estudo das doutrinas hindus (e não diretamente a estas doutrinas elas mesmas) não escreveu uma introdução ao estudo das doutrinas cristãs. Tinha consciência da reforma mental que exigia o estudo do hinduísmo se se queria desembaraçá-la de certos preconceitos ocidentais e recolocá-la em seu próprio sítio hermenêutico. Infelizmente Guénon não se perguntou se operação semelhante não era requerida pelo cristianismo.
Não é intenção de Borella suprir esta lacuna, mas apenas contribuir reunindo testemunhos que demonstram a consciência que tinha a Tradição eclesial da natureza de sua mensagem e de seus ritos. Desta mesnagem se focaliza o essencial do revelatum que por ela se “re-vela”, cujo termo “mistério” resume a integralidade desta mensagem evangélica.
Capítulo consagrado essencialmente ao mistério sob seu aspecto doutrinal, onde se estuda a história da palavra e da coisa em uma série de artigos que vão do Novo testamento aos Padres até o século IV. A preocupação constante é situar o “mistérico” cristão em relação aos contextos culturais judeu e helenístico nos quais se desenvolveu. E se verá igualmente o que se precisa pensar da existência de tradições secretas no cristianismo das origens e de seu conteúdo, principalmente em Clemente de Alexandria e Orígenes.
O ensinamento tradicional da Igreja relativo aos três ritos da iniciação cristã e a questão da “disciplina do arcano”.
Caracterização da via mística primeiro investigando o sentido deste termo através de sua história, em seguida nos voltando para os ensinamentos dos místicos eles mesmos, pelo menos de alguns: poderemos assim estabelecer que se trata de uma via integral.