Escoto Eriugena — Homília sobre o Prólogo do evangelho de São João
XV João introduz João
João introduz João em sua teologia. “A profundidade chamou à profundidade” na voz dos divinos mistérios. João, o Evangelista, narra a história de João, o predecessor. Aquele, a quem é dado conhecer o Verbo no princípio, comemora aquele a quem é dado vir antes do Verbo encarnado.
“Há”, ele diz, não simplesmente “enviado de Deus”, mas “há um homem”. Por isto o Evangelista distingue aquele que era somente um ser humano e veio antes daquele outro que unido a Deus e a humanidade em compacta união e veio depois.
Desta maneira o Evangelista separa a voz transiente do Verbo sempre e imutavelmente subsistente. Ele faz conhecer que aquele é a estrela da manhã, aparecendo na aurora do reino do céu, e declara o outro ser o sol de justiça interveniente.
Assim ele distingue a testemunha daquele a quem se dá testemunho, a mensagem daquele que a envia, a luz da lamparina na noite da luz brilhante que preenche os mundos e destrói a escuridão da morte e do pecado de toda raça humana.
Por conseguinte, o precursor de nosso Senhor era um ser humano, não Deus, enquanto o Senhor, cujo precursor ele era, é ao mesmo tempo um ser humano e Deus. O precursor era um homem chamado pela graça para passar além da humanidade para Deus, enquanto ele diante de quem ele veio era Deus por natureza e foi chamado para se tornar homem, pela humildade e pela vontade de nossa salvação e redenção.
“Houve um homem enviado”. Pro quem? Por Deus. Por Deus o Verbo, antes de quem ele, o ser humano, veio. Sua missão era ser o precursor. Clamando alto, ele envia sua voz, “a voz de alguém clamando na ermo”, antes. O mensageiro preparou a vinda de seu Senhor.
“Cujo nome era João” — “a quem foi dado” ser o precursor do Rei dos Reis, para tornar manifesto o Verbo encarnado. A quem foi dado batizá-lo como um promessa profética de sua edoção espiritual a vir; e para dar testemunho à luz eterna por sua voz e martírio.