ESCOTO ERIUGENA — A VOZ DA ÁGUIA
A voz da águia espiritual ressoa na igreja. Possam nossos sentidos exteriores apreender seu som transiente, possa nosso espírito interior penetrar seu permanente sentido.
Esta é a voz do pássaro de voo alto — não do pássaro que eleva-se acima do ar material ou acima do éter, orbitando todo o mundo sensível — mas a voz do pássaro espiritual que, com asas muito rápidas da teologia mais interior e intuições de brilhante e altiva contemplação, transcende toda visão e voa além de todas as coisas que são e que não são.
Pelas coisas que são, quero dizer as coisas que de todo não escapam à percepção, seja angélica ou humana, posto que vêm depois de Deus e porque seus membros não transcendem o que foi confeccionado pela única causa de tudo. E pelas coisas que verdadeiramente não são, me refiro aquelas que realmente ultrapassam os poderes de toda compreensão.
O abençoado teólogo João portanto voa além não apenas do que pode ser pensado e falado, mas também além de toda a mente e sentido. Exaltado pela voo inefável de seu espírito além de todas as coisas, ele entra dentro do próprio arcano do princípio único. Lá ele claramente distingue a unidade superessencial e a diferença supersubstancial do início e o Verbo — ou seja, do Pai e do Filho — ambos incompreensíveis, e inicia seu Evangelho dizendo: No princípio era o Verbo.