EVANGELHO DE JOÃO — CAPÍTULO XIII
JESUS LAVA OS PÉS DE SEUS DISCÍPULOS
REFERÊNCIA A JUDAS
Segundo Carreira das Neves:
O quarto evangelho é o único que interpõe entre a ceia de despedida de Jesus com os seus discípulos (13, 1-38) e a narrativa da paixão e morte (18-20) quatro capítulos com os denominados “Discursos de Adeus” (14-17). Em abono da verdade, estes discursos já começam com a ceia nos pequenos diálogos e monólogos que trava com os discípulos, razão porque alguns exegetas veem na ceia de despedida (13, 1-38) o primeiro discurso de Adeus.
A diferença entre os “diálogos” da ceia e os “discursos” depois da ceia é de conteúdo e de forma, mas o que mais sobressai é a forma pelo fato dos “discursos” serem apenas monólogos compridos do próprio Jesus.
Os exegetas, conforme dissemos, ainda continuam a discutir se a narrativa da ceia do cap. 13, com os respectivos diálogos de Jesus, já formam uma espécie de introdução aos discursos dos cc. 14-17, mormente se os vv. 31-32 pertencem aos versículos que os precedem (13,2-30) ou aos que os seguem. A narrativa da ceia terminaria com a saída de Judas (13, 30) e os discursos de Adeus começariam com 13, 31, onde Jesus proclama a sua glória (“Agora, o Filho do Homem vai ser glorificado, e Deus vai ser glorificado nele…”).Tendo em vista a repetição do verbo “sair”(exèlthen) nos vv. 3O e 31, referente ajudas, a repetição do advérbio modal “imediatamente” (euthus) nos vv. 3O e 32, do advérbio temporal “agora” (nun) do v.31, relacionado com o todo da ceia, do diálogo de Pedro com Jesus nos vv. 36-38, que reatam a ação de Pedro nos vv. 6ss e 24ss, devemos concluir que estamos sempre dentro do contexto maior da ceia. O duplo “Amen”, que aparece quatro vezes (vv. 16. 20. 21. 38), que inicia e termina as profecias da traição e negação (vv. 21-38), também indicia a unidade do capítulo.
Diante das profecias sobre a traição de Judas e negação de Pedro, com toda a sua simbólica para a vida das comunidades joanicas,já muito divididas entre si, se tivermos em consideração as cartas de João, percebemos melhor o drama de Judas e Pedro e o gesto “sacramental” de Jesus em lavar os pés aos discípulos e consequente doutrinação sobre o serviço e o amor.
O autor relata a ceia de maneira apressada com uma simples referência: “Enquanto celebravam a ceia, Jesus, sabendo perfeitamente que o Pai tudo lhe pusera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-se da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e atou-a à cintura” (13,3-5). O autor nada mais diz. O que se segue é um pequeno diálogo entre Jesus e Pedro (13, 6-10), um pequeno monólogo de Jesus aos discípulos (13,11-20), um relato com diálogo sobre o anúncio da traição de Judas (13,21-32), mais um pequeno monólogo doutrinal de Jesus sobre o mandamento novo (13,33-35) e, finalmente, um pequeno diálogo entre Jesus e Pedro sobre o anúncio da negação de Pedro (13, 36-38).
O que se passou na ceia é importante para compreendermos os discursos de Adeus.