Tradução de Antonio Carneiro de “O Corpo Místico de Cristo”, às páginas 28, 29, 30, 31, 32 e 33.
Estes escritos espirituais de Edith Stein, carmelita Teresa Benedicta de la Cruz (1891-1942), judia, mártir, estão compostos por dezesseis tratados breves, agrupados em três partes: Espiritualidade mística, Meditações e Em torno ao Carmelo. Em todos estes ensaios está bem marcada a marca do gênio Edith Stein em seu caminho sedento da verdade. De especial importância são Castelo da Alma, resumo das Moradas de Santa Teresa desde o ponto de vista fenomenológico e da psicologia guiada pela graça, e Caminhos do Conhecimento de Deus, Teologia simbólica do Aeropagita, como o melhor estudo preliminar, vestíbulo de entrada para o caminho espiritual traçado por São João da Cruz. Estes dezesseis ensaios refletem a sede daquela alma genial, Edith Stein, ansiosa de verdade, da Verdade. Distanciada de Deus quando sua ciência era incipiente e entregada em plenitude quando seu saber alcançou o céu.
Em Edith Stein encontramos uma mística do quotidiano, encarnada em sua tarefa intelectual, que não deixa indiferente a quem se aproxima dela. Entre seus escritos espirituais destaca-se a Ciência da Cruz, não incluída aqui por exceder as dimensões deste volume e ter sido publicada várias vezes em espanhol. E também, porque muitos de seus pensamentos se acham já nestes ensaios sobre o mistério da cruz.
a) SER UM COM DEUS
Não sabemos, nem devemos perguntar-nos antes do tempo para onde nos conduz o Menino Deus nesta terra. Somente sabemos que aqueles que o Senhor ama lhes acontece tudo para seu bem. E mais, que os caminhos que nos conduzem ao Salvador ultrapassam os limites da terra.
Oh admirável intercâmbio! O criador do gênero humano nos apresenta sua divindade ao tomar um corpo. O Redentor veio ao mundo para realizar esse intercâmbio admirável. Deus se fez Filho do Homem para que todos os homens chegassem a ser filhos de Deus. Um de nós havia rompido o laço da filiação divina, e um de nós haveria de uni-lo novamente e pagar a expiação. Ninguém da velha geração, doente e degenerada, poderia tê-lo feito. Por isso, tinha que ser enxertado um broto novo, são e nobre. Ele se fez um de nós, mas não somente isso, como também um com nós. Eis aqui o maravilhoso do gênero humano, que todos somos um. Se fosse de outra maneira, se todos vivêssemos como seres autômatos e separados, livres e independentes uns dos outros, a queda de um não haveria arrastado a queda de todos. Por outro lado, o preço da expiação teria podido ser pago e poderíamos contar com isso, mas então sua justiça não teria sido transmitida aos pecadores e não seria possível a justificação. No entanto, ele veio para ser conosco um corpo místico: Ele como nossa Cabeça e nós como seus membros. Ponhamos nossas mãos nas mãos do menino divino, respondamos nosso Sim ao seu Segue-me; então seremos seus e o caminho estará livre para que sua vida chegue à nós.
Este é o princípio da vida eterna em nós. Não é todavia a visão beatífica na luz da glória, se trata ainda da obscuridade da fé, mas que já não pertence à este mundo, mas sim ao Reino de Deus. Quando a Bem-Aventurada Virgem Maria pronunciou seu Fiat começou o reino dos céus na terra, e ela foi sua primeira cidadã. E todos os que, antes e depois do nascimento do Menino, com palavras e atos se proclamaram seus — São José, Santa Isabel com seu filho e todos que estiveram no presépio —, entraram para formar parte desse reino celestial. Tudo aconteceu de um modo muito diverso ao que se poderia pensar depois da leitura dos Salmos e Profetas sobre a instauração do Reino de Deus. Os romanos continuaram sendo os senhores da terra, e os Sumos Sacerdotes e Escribas continuaram submetendo o povo sob seu jugo. Todos os que pertenciam ao Senhor levavam de um modo invisível o Reino de Deus dentro de si. A carga terrestre não lhes foi tirada, inclusive se os acrescentou algo mais, mas o que em si encerrava era uma força alentadora que fazia o jugo suave e a carga leve. O mesmo ocorre hoje em dia com todo filho de Deus. A vida divina que se acende na alma é a luz que surge nas trevas, o milagre do Natal. O que o leva consigo compreende o que se diz dele. Para os outros, no entanto, tudo o que se diz dele é um balbuciar ininteligente. Todo o evangelho de São João é um certo balbuciar de luz eterna que é a vida e é o amor. Deus em nós e nós Nele, nisto consiste nossa participação no Reino de Deus, cujo fundamento está depositado no mistério da Encarnação.
b) SER UM EM DEUS
Ser um com Deus: isto é, o primeiro. Mas, um segundo movimento lhe segue imediatamente. Cristo é a Cabeça, nós os membros do Corpo Místico, o qual implica que nossas relações mútuas são de membro a membro, e todos homens são um em Deus, uma única vida divina. Se Deus é Amor e vive em cada um de nós, temos que amar-nos com amor fraternal. Por isso nosso amor ao próximo é a medida de nosso amor à Deus. No entanto, este último é distinto do amor natural que temos pelos seres humanos. O amor natural surge entre aqueles que estão unidos por um vínculo de sangue, por afinidade de caráter ou por interesses comuns. Os outros são “estranhos”, que pouco nos interessam, e que inclusive podem provocar certa repulsa, a tal ponto que até os evitamos fisicamente. Para os cristãos não existem “seres humanos estranhos”. Nosso “próximo” é todo aquele que temos diante de nós e que tem necessidade de nós e que é indiferente que seja nosso parente ou não, que nos impressione bem ou nos desagrade, ou que seja “moralmente digno” ou não de ajuda. O amor de Cristo não conhece limites, não se cansa nunca e não se assusta ante a sujeira ou a miséria. cristo veio para os pecadores e não para os justos. E se o amor de Cristo vive em nós, então atuaremos como ele, e iremos em busca das ovelhas perdidas.
O amor natural busca apoderar-se das pessoas amadas e possuí-las, se for possível, com exclusividade. Cristo veio ao mundo para recuperar para o Pai a humanidade perdida; e quem ama com seu amor, quer os seres humanos para Deus e não para si. Não cabe dúvida de que este é o caminho mais seguro para possuí-los para eternidade, pois temos escondido a um homem em Deus, então somos já um com ele em Deus, enquanto que a tentação de”conquistá-lo” para nós conduz sempre — cedo ou tarde — a perdê-lo. Isto é válido tanto para própria alma, como para a alheia, como para qualquer bem exterior: quem se ocupa afanosamente de ganhar e conservar, esse perde; quem a entrega à Deus se entrega, esse ganha.
c) FAÇA-SE TUA VONTADE!
Com isto nos referimos à um terceiro signo da filiação divina. Ser um com Deus foi o primeiro. Para que todos sejamos um em Deus o segundo. E o terceiro: “Se me amais observarás meus mandamentos”(Jo 14,15). Ser filho de Deus significa deixar-se guiar pela mão de Deus, fazer sua vontade e não a própria, por todas as esperanças e preocupações em suas mãos e naõ preocupar-se mais consigo mesmo nem com o futuro. Nisto se fundamenta a liberdade e a alegria dos filhos de Deus. Que poucos, ainda dentre os verdadeiramente piedosos ao sacrifício heroico, possuem este dom precioso! Muito deles caminham pela vida encurvados sob o peso de suas preocupações e deveres. Por todos é conhecida a parábola das aves do céu e dos lírios do campo (Mt 6, 25 ss). Entretanto, quando se encontram com um homem que não tem nem fortuna, nem aposentadoria, nem segurança e que vive despreocupado com seu futuro, então balançam a como se tratasse de um caso anormal. Certamente está equivocado quem pense que o Pai do Céu se preocupará continuamente com o salário e o nível de vida que o ser humano considera idôneo; quem assim o crê é que tem feito um cálculo muito equivocado. Tais condições não se escrevem um contrato com o céu. A confiança em Deus pode chegar a ser imóvel somente se estiver disposto à aceitar tudo o que venha da mão do Pai. Somente ele sabe o que nos convém. E se alguma vez fossem mais convenientes a necessidade e a privação que uma renda segura e bem dotada, ou o fracasso e a humilhação melhor que a honra e afama, tem que estar disposto à isso. Só assim se pode viver tranquilo no presente e no futuro.
O Faça-se tua vontade! em todo seu conteúdo tem que ser o fio condutor de toda a vida cristã. Tem que regular o curso do dia, de manhã à noite, o passar dos anos e da vida inteira. Esta será então a única preocupação do cristão. Todos os demais cuidados os toma o Senhor sobre si. Mas aquela permanece enquanto nos encontramos nesta vida. Objetivamente falando, nunca teremos a segurança total de permanecer sempre nos caminhos de Deus. Assim como os primeiros seres humanos caíram da filiação divina na lonjura de Deus, do mesmo modo cada um de nós se encontra no fio da navalha entre o nada e a plenitude da vida divina. E cedo ou tarde o perceberemos subjetivamente. Na infância da vida espiritual, quando começamos a deixar-nos guiar pela mão de Deus, percebe-se com força e intensidade a mão que dirige: com clareza se vê que é o que tem de fazer ou omitir. Mas, isto não dura para sempre. Quem pertence a Cristo, tem que viver toda a vida de Cristo. Tem que alcançar a maturidade de Cristo e recorrer o caminho da Cruz, até o Getsêmani e o Gólgota. E todos os sofrimentos que possam vir de fora nada são em comparação à noite escura1 da alma, quando a luz divina já não ilumina e a voz do Senhor não se escuta. Deus está ali, mas escondido e calado. Porque isso acontece assim? São mistérios de Deus sobre os quais falamos, mas que nunca se deixam desiludir completamente. Deus se fez humano para fazer-nos participar de sua vida de um modo novo. Isto o temos compreendido como participação na vida divina. Esse é o começo e a meta final.
Mas, entretanto tem algo mais. Cristo é Deus e humano, e quem toma parte em sua vida, tem que participar de sua vida divina e humana. A natureza divina que ele possui desde a eternidade, deu a sua paixão e morte um valor infinito e uma força redentora. A paixão e morte de Cristo continuam em seu corpo místico e em cada um de seus membros. Todo ser humano tem que sofrer e morrer. Mas, se ele é um membro vivo do corpo místico de Cristo, então seu sofrimento e sua morte recebem uma força redentora em virtude da divindade da Cabeça. Essa é a razão objetiva pela qual todos os santos desejavam o sofrimento. Não se trata, pois, de uma tendência perversa para o sofrimento. Aos olhos da razão natural isto aparece como uma perversão, mas à luz do mistério da redenção é o mais razoável. E deste modo os que estão unidos à Cristo permanecem inclusive inquebrantáveis na experiência subjetiva da noite escura da lonjura e abandono de Deus; quiçá permita a divina Economia da Salvação o sofrimento para liberar àqueles que estão atados. Por isso faça-se tua vontade! também e sobretudo na noite mais escura (vide nota abaixo).
Original
ÊTRE UN AVEC DIEU
ÊTRE un avec Dieu ; où cela nous conduira-t-il, nous l’ignorons et nous ne devons pas le demander avant qu’il en soit temps. Nous savons seulement que pour ceux qui aiment le Seigneur, toutes choses tournent au bien. En outre, les chemins où le Seigneur nous conduit mènent bien au delà de cette terre.
O échange étonnant! En s’incarnant, le Créateur du genre humain nous donne en partage sa divinité. Pour cette œuvre admirable, le Sauveur est venu dans le monde. Dieu se fît enfant des hommes pour que les hommes deviennent enfants de Dieu. Un homme avait rompu le lien de notre appartenance à Dieu, un homme devait le renouer et expier. Mais aucun descendant de cette vieille souche, malade et abâtardie, n’en avait le pouvoir. Une nouvelle greffe, saine et noble, devait être entée sur le vieux tronc. Il est devenu l’un de nous et, plus encore, se fit un avec nous. Voilà bien la grandeur de la race humaine que nous soyons tous un. S’il en était autrement, si nous n’étions que des individus autonomes et séparés, libres et indépendants les uns des autres, la chute de l’un n’aurait pu entraîner la chute des autres. D’autre part, le prix de l’expiation aurait pu être payé pour nous et nous aurions été quittes, mais la justice de Dieu ne nous aurait pas été attribuée, à nous pécheurs, et aucune justification n’eût été possible. Aussi Dieu vint-il pour former avec nous un corps mystérieux : Lui, notre tête, nous, ses membres. Si nous mettons nos mains dans celles de l’Enfant divin, si nous répondons « oui 😉 à son « suis-moi », alors nous sommes à Lui et il n’est plus d’obstacle au passage en nous de la vie divine.
Nous commençons alors à vivre de la vie éternelle. Certes nous ne jouissons pas encore de la vision bienheureuse dans la lumière de la gloire. Nous cheminons toujours dans l’obscurité de la foi, mais nous ne sommes plus entièrement de ce monde, nous appartenons déjà au royaume de Dieu. Quand la Vierge, bienheureuse entre toutes, prononça son fiât, le royaume de Dieu apparut sur terre et elle en fut la première servante. Ceux qui, avant et après la naissance de l’Enfant, le reconnurent en paroles et en actes, saint Joseph, sainte Elisabeth et son fils, tous ceux qui se tenaient autour de la Crèche, entrèrent eux aussi dans ce royaume.
Le règne de Dieu survint autrement qu’on se l’imaginait d’après les Psaumes et les Prophètes. Les Romains restaient maîtres dans le pays, et les grands-prêtres et les scribes continuaient à tenir le pauvre peuple sous leur joug. Mais, invisiblement, celui qui appartenait au Maître possédait en lui le royaume des Cieux. Ses peines terrestres ne lui étaient pas enlevées, d’autres au contraire s’y ajoutaient, mais une force le portait qui rendait doux le joug et la peine légère.
Il en est encore de même aujourd’hui pour chaque enfant de Dieu. La vie divine dont l’âme est embrasée est cette lumière qui vint dans les ténèbres, miracle de la Nuit sainte. Et qui la porte en lui comprend ce qu’on en dit. Pour les autres, ce n’est qu’un langage incompréhensible. L’Évangile de saint Jean est tout entier un semblable balbutiement sur la lumière éternelle qui est amour et vie. Dieu en nous et nous en Lui, telle est notre participation au royaume de Dieu qui, dans l’Incarnation, eut son origine.
ÊTRE UN EN DIEU
Être un avec Dieu n’est qu’un commencement. Car le Christ étant la tête du Corps mystique et nous ses membres, nos rapports mutuels sont ceux de membres à membres, et nous sommes tous ensemble un en Dieu, vivant de sa vie divine. Si Dieu est en nous, et s’il est l’Amour, nous ne pouvons pas ne pas aimer nos frères. Aussi notre amour du prochain donne-t-il la mesure de notre amour pour Dieu.
L’amour selon la nature s’adresse à ceux qui nous sont proches par les liens du sang, les affinités de caractère ou la communauté d’intérêt. Les autres sont des « étrangers » qui « ne nous sont rien », ou qui peuvent même nous être antipathiques. Pour un chrétien, il ne peut y avoir d’ « étrangers ». Est toujours notre « prochain » celui qui se trouve près de nous, celui qui a le plus besoin de nous. Peu importe qu’il soit ou non notre parent, qu’il nous « plaise » ou non, qu’il soit ou non « moralement digne » de notre aide. L’amour du Christ ne connaît pas de frontières, il ne s’arrête jamais, ni la laideur ni la vermine ne le rebutent. Il est venu pour les pécheurs et non pour les justes. Et si l’amour du Christ vit en nous, nous ferons comme Lui et chercherons les brebis perdues.
L’amour selon la nature veut avoir pour soi l’être aimé et le posséder sans partage. Le Christ, Lui, est venu afin de rendre au Père l’humanité perdue, et celui qui aime selon son amour cherche les hommes pour Dieu et non pour lui-même. Tel est aussi le moyen le plus sûr de les posséder éternellement ; car si nous avons accueilli un homme en Dieu, nous sommes en Dieu un avec lui, tandis que souvent le désir de conquête — et cela arrive en fait toujours, tôt ou tard — aboutit à la perte de ce qu’il poursuit. Cela vaut pour l’âme d’autrui comme pour la nôtre, comme aussi pour tout bien temporel. Oui s’adonne aux choses extérieures pour gagner et conserver, perd. Qui se livre à Dieu, gagne.
QUE TA VOLONTÉ SOIT FAITE
Nous abordons ici une troisième marque de la filiation divine : « A cela je reconnais que vous m’aimez si vous gardez mes commandements. »
Être enfant de Dieu signifie marcher la main dans la main de Dieu, faire sa volonté et non la nôtre, nous en remettre à Lui de nos soucis et de nos espoirs, ne plus nous inquiéter de notre propre avenir. Ainsi trouve-t-on la liberté et la joie.
Combien peu les possèdent parmi les vrais croyants, et même parmi ceux qui ont fait d’eux-mêmes l’offrande héroïque! Combien vont toujours comme courbés sous le poids écrasant de leurs soucis et de leurs devoirs. Ils connaissent la parabole des oiseaux du ciel et du lys des champs, mais s’ils rencontrent un homme sans ressources, ni pension, ni assurance qui vit insouciant de l’avenir, ils hochent la tête comme devant quelque chose d’insolite. Certes, attendre du Père qu’il prenne soin de nos revenus, de notre situation, de la manière que nous estimons souhaitable, serait se tromper lourdement. La confiance en Dieu ne peut demeurer ferme que si elle inclut la disposition de tout accepter de sa main. Lui seul sait ce qui nous convient. Et si un jour le besoin et la misère venaient à nous plutôt qu’une vie assurée et confortable, si l’échec et l’humiliation nous étaient meilleurs que l’honneur et le prestige, il nous faudrait être prêts. Qui fait ainsi peut vivre le présent, allégé de tout l’avenir.
« Que ta volonté soit faite. » Telle doit être la règle de la vie chrétienne, ordonnant la journée du matin jusqu’au soir, le cours de l’année, la vie entière : unique préoccupation du chrétien. Tous les autres soucis, le Seigneur les assume.
Un seul, toutefois, demeure aussi longtemps que nous vivons. Objectivement, nous ne sommes pas définitivement assurés de demeurer toujours dans les voies du Seigneur. Comme nos premiers parents ont pu tomber de la famille de Dieu dans le camp des rebelles, ainsi chacun de nous se tient toujours sur la corde raide entre le néant et la plénitude de la vie divine. Et, tôt ou tard, nous en ferons subjectivement l’expérience.
Dans l’enfance de la vie spirituelle, alors que nous avons tout juste commencé de nous abandonner à la conduite de Dieu, nous savons qu’une main très ferme et très forte nous dirige ; et ce que nous devons faire ou abandonner nous apparaît en pleine clarté. Mais il n’en sera pas toujours ainsi. Celui qui appartient au Christ doit vivre toute la vie du Christ. Comme Lui il atteindra l’âge adulte et, un jour, entrera dans le chemin de la Croix, qui, par Gethsémani, conduit au Golgotha. Et toutes les souffrances qui nous atteignent extérieurement ne sont rien en comparaison de la nuit obscure de l’âme lorsque la lumière divine ne Té-claire plus et que la voix du Seigneur ne se fait plus entendre. Dieu est là, mais il est caché et se tait.
Pourquoi en est-il ainsi ? Ce sont les mystères de Dieu que nous abordons et ils ne se laissent pas entièrement pénétrer. Nous ne pouvons que commencer à les contempler.
Dieu s’est fait homme pour nous donner de participer de nouveau à sa vie. Participation qui était au principe et qui est l’ultime fin. Mais dans l’intervalle, nous avons à vivre. Le Christ est à la fois Dieu et Homme, et qui veut partager sa vie doit prendre part à sa vie divine et à sa vie humaine. La nature humaine qu’il revêtit Lui donna la possibilité de souffrir et de mourir. La nature divine qu’il possède de toute éternité confère à sa souffrance et à sa mort une valeur infinie et une force rédemptrice. La souf-l france et la mort du Christ continuent dans son corps mystique et en chacun de ses membres. Tout homme doit souffrir et mourir. Mais s’il est membre vivant du Christ, sa souffrance et sa mort reçoivent alors.de la divinité du Chef, une puissance de rédemption. C’est la raison objective pour laquelle tous les saints ont appelé la souffrance. Il ne s’agit pas là d’un désir morbide. Ce qui, au regard de l’intelligence naturelle, apparaît presque comme une perversion, se révèle pourtant, dans la lumière du mystère de la Rédemption, comme la raison la plus haute.
Ainsi lié au Christ, le chrétien demeure inébranlé même dans la nuit obscure où Dieu lui paraît lointain et où il se croit abandonné ; et peut-être la Providence divine lui impose-t-elle ce supplice afin qu’un de ses frères, effectivement prisonnier de l’erreur, soit délivré.
Disons-nous aussi : « Que ta volonté soit faite », même au cœur de la plus sombre nuit.
Clara alusão à obra de São João da Cruz. Para maior aprofundamento sobre o tema noite escura da alma (em espanhol noche oscura del alma) recomenda-se a leitura do texto em espanhol do Diccionario de San Juan de la Cruz , Editorial Monte Carmelo, Madrid, 2000, 1.577 p. director Eulogio Pacho, ISBN 84-7239-529-4 referente ao verbete “Noche oscura”(obra) das páginas 1017 até 1033 escritas por Eulogio Pacho, assim como o verbete Noche oscura del alma das páginas 1033 até 1062 escritas por Gabriel Castro. (vide também Monte Carmelo Noite ↩